Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Seis anos após ingressar no Orkut, tendo passado uns seis meses na cultuada rede social de Mark Zuckerberg, o Facebook, pude encontrar uma aplicação perfeita para o grande achado espiritual e filosófico do autor do Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry.
É a rede social criada pelo programador turco Orkut Büyükkökten que de fato incorpora o ideal de construção e manutenção de amizades dentro e fora da Internet, honrando o compromisso e o empenho que um laço fraternal exige. Mas só pude constatar isso depois de experimentar o tamagotchi travestido de rede social que é o Facebook. Não me interpretem mal, por um bom período eu pude “curtir” muito o site americano.
O FB é uma ótima ferramenta de comunicação, e tem ajudado a promover encontros de amigos e familiares que se perderam com o tempo, contatos profissionais, mobilizações políticas internacionais, causas ligadas aos direitos humanos e, por que não dizer, uma vez que esse é um dos propósitos do site: flertes, namoros e casamentos.
Mas o meu objetivo aqui não é analisar a função ou a qualidade do conteúdo das redes sociais mais populares, uma vez que, nesse quesito, o Facebook assumiu a dianteira. Quero apenas relatar a minha experiência reveladora sobre amizades ao deixar a rede social que virou filme.
Primeiro o site me disse que eu poderia voltar a hora que desejasse para reativar minha conta. Que ótimo, pensei naquele momento. Quando passar o meu abuso do Facebook eu volto, e meus amigos estarão todos lá. Porém, há um detalhe gráfico que causa certo desconforto aos contatos do usuário fujão: todos os seus comentários e indicações de que você curtiu algo relacionado a eles também desaparecem. Um pequeno indício do caráter volúvel desse tipo de conexão. Tanto o Facebook quanto o Orkut não estão nem aí para os gestos de apreciação e afeto daqueles que já foram um dia seus fiéis usuários.
A situação se torna delicada quando alguém decide deixar o Orkut, e isso é o que está acontecendo com alguns usuários do Facebook que consideram obsoleta e cafona a rede do anel roxo (eu também já pensei assim). Na hora de desativar a conta, vem a surpresa. Toda a rede de relacionamento estabelecida ao longo de anos será perdida.
Se o usuário quiser retornar ao site, terá que pacientemente adicionar contato por contato, tarefa que exigirá muito tempo de pessoas que chegaram a adicionar centenas de amigos, conhecidos e estranhos atraentes. Entretanto, essa é uma tarefa básica, essencial, para quem deseja fazer amigos: dedicar nosso tempo a cativá-los, se não quisermos que a ligação seja passageira. A grande lição deixada pela rede cada vez mais em queda na preferência dos brasileiros é que ela está mais próxima de um conceito mais civilizado, solidário e empático de amizade do que qualquer outra.
O Orkut nos lembra, talvez de maneira acidental, a responsabilidade que assumimos em relação às pessoas que decidimos incluir em nossas vidas. Se nos afastamos delas (e todo mundo tem direito a momentos de recolhimento), precisamos entender que o retorno ao convívio exigirá mais do que um torpedo, um e-mail ou um telefonema.
Um simples clique no botão de ativar conta do Facebook traz de volta em segundos toda a sua rede de contatos. Mas, na vida real, serão necessários vários torpedos, mensagens eletrônicas e conversas por telefone ou ao vivo para restabelecer o vínculo com aquele familiar, colega, amigo ou amiga que você não procura há meses. Ponto para o Orkut, a rede social que traduz para o mundo da Internet valores que precisam ser preservados no convívio humano.
Carolina Flores é amiga dos amigos, solitária por opção e usuária mais ou menos fiel do Orkut.