Foto: Eduardo Queiroga
Cada sonho doido, né? Esse de ontem à noite eu tenho que dividir com vocês na esperança que algum terapeuta freudiano on line possa aclarar-me as ideias ainda confusas. Era uma tapioca me perseguindo pelas ruas de Olinda. Não tinha pernas ou braços de tapioca. Arrastava-se como uma serpente recheada com queijo e coco. Eu tinha ouvido falar de uma perna cabeluda que perseguia as pessoas na década de 70 em Recife. Mas uma tapioca era algo que, até esta data, eu nunca havia temido. Das experiências traumáticas de minha infância ou adolescência, nenhuma envolvia tapiocas. No dia anterior eu não tinha comido nenhuma tapioca ou sofrido qualquer rejeição de alguém comendo uma tapioca. Minha mãe não me falava mal das tapiocas. Édipo, ao que me consta, nem sequer comia tapioca. Na verdade, adoro essa iguaria feita de fécula de mandioca e era peculiar que aquela que me assediava era, exatamente, a minha preferida (Nunca gostei dessas misturas de tapioca com leite condensando, banana, charque, chocolate. Tapioca pra mim é com queijo e coco e cafezinho junto). Isso me deixou ainda mais confuso. Por que não tapioca com pimentão ou algo que me sugerisse um pesadelo?
O sonho começou no Alto da Sé, naquelas barraquinhas onde se fazem as melhores tapiocas do Sistema Solar. Dona Zeza me perguntou: Você vai querer com salmão? Isso já me deixou desconfiado. Com salmão?! Ela sabia minha preferência e jamais viria com essa indagação sem sentido. No sonho logo percebi que Dona Zeza estava tentando me passar a mensagem que algo não estava bem. Fiquei esperto. Ela me piscou apontando levemente a cabeça para o chão. Lá estava a tapioca gigante, deveria ter uns 2 metros pelo menos, fustigando-lhe o ralador de côco nas pernas cheia de varizes. Corre! Ela tá atrás de tu, menino!! Não deu outra: saí em desabalada carreira. Com aquelas ladeiras, acabei levando uns cinco tombos até chegar lá embaixo, nos Quatro Cantos. A tapioca rastejante tava quase abocanhando meu pé; puxei o mais rápido, levantei e tentei entrar na primeira casa que vi. Não deixaram. Disseram que era Patrimônio da Humanidade e tinham que consultar o IPHAN. Pô!! A essa altura?! Com a danada da tapioca quase me pegando?! Sem jeito, né? Enquanto ela subia à calçada, eu corri pro outro lado da rua e entrei num ateliê de bonecos gigantes. Sonho é muito doido, mesmo! Os bonecos começaram a me perguntar sobre o Big Brother... Vai, diz aí, aquela gatinha já pagou peitinho? Como eu não sabia nada da porra do Programa, o Homem da Meia Noite me expulsou de volta pra rua. Dei de cara com a tapioca. Tava ela e Alceu Valença, agarrados, cantando uma música de Lady Gaga. Aproveitei a distração dos dois e me meti a correr. Não fui muito longe. Uma banda de frevo veio em minha direção. O estranho é que, apesar do som ser o dos metais tocando Vassourinhas, os instrumentos eram sanfonas feitas de tapioca. Além disso, todos os músicos tinham a carinha-de-vovô de Dona Zeza. De repente pararam de tocar e me perguntaram: vai querer com salmão? Olhei para trás. Alceu, a tapioca, Lady Gaga, o Homem da Meia Noite, um índio Caeté, o cachorro da enchente, um sushiman e Pedro Bial rindo da minha cara. Sei não... Por via das dúvidas vou deixar de comer tapioca por uns tempos...