sábado, 29 de setembro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

Pablo Neruda

Aniversário da morte de Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto, o grande poeta chileno Pablo Neruda (12 de julho de 1904 - 23 de setembro de 1973).

Poema 1

Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Juízo de Exceção na Democracia (Pedro Serrano)

“A influência poderosa da mídia sobre nossa Corte Suprema no caso, por evidente, não se prende à mera lógica noticiosa. Parece claro que a mídia brasileira, cujos veículos de formas diferentes compartilham do apoio explícito ou quase explicito ao bloco de oposição ao governo e da repulsa irracional de nossas elites ao petismo e ao lulismo, busca um fim político e não noticioso ou moral, qual seja, produzir uma mácula na imagem histórica do governo Lula e do PT, matar politicamente o inimigo.”

La temis desnuda (



Em Honduras, o presidente Manoel Zelava foi deposto por uma decisão do Parlamento, onde não lhe foi oferecido qualquer direito de defesa, e por uma ordem liminar da Corte Suprema daquele país que determinou sua prisão sem prévia oitiva.
Tal ordem judicial poderia até ser aceita como compatível com a Constituição não fosse o presidente preso pelas Forças Armadas e não pela força de segurança pública, como ordenado pela Carta Magna hondurenha, e não tivesse sido expulso do país, em flagrante desrespeito a dispositivo específico da referida Constituição que impede a expulsão de cidadão hondurenho. A nulidade da ordem judicial só foi reconhecida pela Corte Suprema após o término do que deveria ter sido seu mandato.
No Paraguai, o desrespeito cometido pela sala constitucional da Corte Suprema de Justiça à Carta Magna foi ainda mais grosseiro. A Corte negou vigência ao artigo 17 da Constituição, que garante defesa “no processo penal, ou em qualquer outro que possa derivar pena ou sanção”. Obviamente, a cassação de mandato eletivo é uma sanção grave, mesmo se realizada em processo político. E bizarro juridicamente imaginar como adequado ao Estado de Direito a realização de um processo político de impedimento sem direito a ampla defesa, como ocorreu no caso de Fernando Lugo.
Tais casos evidenciam um fenômeno político e jurídico, ou, como disse Fontana, na “franja ambígua e incerta, na intersecção entre o jurídico e o político”, bastante incomum. A jurisdição torna-se fonte da exceção e não do Direito.
Como bem observou Giorgio Agamben, a exceção não se localiza na contemporaneidade apenas no âmbito da crise política ou na situação excepcional e temporária imaginada por Karl Schimitt, em que surge o estado de necessidade estatal como razão para a submissão do direito ao poder soberano do governo. Ela ocorre também no interior da rotina de nossas sociedades democráticas, como espaço de soberania absolutista, suspensivo do direito e dos direitos.
Os exemplos são vários e em quase todas as sociedades democráticas ocidentais: a prisão de Guantánamo e o “Patriot Act” nos EUA, o trato não humano destinado a estrangeiros em países europeus, as façanhas do Bope e o excesso de medidas provisórias no Brasil.

Agamben aponta a falta de uma teoria da exceção no Direito público, talvez porque grande parte dos juristas a considerem mais uma questão própria do território da política do que um verdadeiro problema jurídico.
De qualquer forma, quando se passa a vislumbrar o Judiciário de países de constituições democráticas como fonte da exceção, não há como não pensar o tema no âmbito do Direito, pois tais decisões repousam em fundamentações pretensamente jurídicas que servem de roupagem fraudulenta à decisão soberana absolutista. Essa crítica e denúncia da fraude é dever ético do operador do Direito, pois ele é quem tem o instrumental técnico apropriado para evidenciar o embuste. E seu ônus social, deontologia de sua profissão.
Sem pretensão de esgotar ou sequer ensaiar de forma científica o tema num texto jornalístico, creio que de plano, entendida a exceção como decisão ocorrente na rotina democrática ou mesmo como técnica ocasional de exercício do poder político no interior da democracia, podemos verificar duas categorias de exceção nos Estados contemporâneos, inclusive no Brasil.
Há um tipo de exceção meramente aparente, estabelecida de forma autorizada e regulada pelo Direito. Neste caso, a suspensão de direitos se concretiza em uma forma de “direito especial”, próprio a ser aplicado em situações de guerra ou grave conflito interno, como é o estado de necessidade alemão, os decretos de urgência e Estado de sítio italianos e franceses, as leis marciais e poderes de emergência da doutrina anglo-saxônica e o estado de defesa e o estado de sitio dos artigos 136 a 141 de nossa Constituição.
E há o segundo tipo, a exceção verdadeira ou real, em que por vontade política soberana, decisionista, há a suspensão do Direito, implicando a submissão do jurídico ao politico, sem qualquer racionalidade transversal entre essas dimensões da vida social.
A lógica do lícito-ilícito, própria do Direito, é superada pela lógica do poder própria da política, mesmo dentro de um tribunal. Neste caso, na jurisdição, o poder político da toga supera faticamente a força da lei.
Tal nefasto tipo de exceção se caracteriza pela simplificação da decisão a si mesma, sem qualquer mediação real pelo direito, por uma provisoriedade inerente, pois não trata de extinguir o direito, mas de suspendê-lo em situações específicas, por seu fim eminentemente político-soberano, em que o poder se apresenta de forma bruta e, por consequência, por sua não autolimitação, nem mesmo por qualquer regra de coerência ou racionalidade. Nesse último aspecto, a decisão judicial de real exceção não produz “jurisprudência” para situações semelhantes juridicamente, mas diferentes politicamente. Mudando-se os atores envolvidos ou o fim político, muda-se a decisão, retornando-se ao Direito ou produzindo nova exceção.
Em nossa conjuntura, a questão é clara: o caso do “mensalão” trata-se de exceção real ou de mera mudança ocasional em postulados jurisprudenciais da Corte?
Efetivamente é cedo para uma avaliação terminativa.
Sinais existem de que a exceção pode estar acontecendo, mas não há ainda condições de certeza. Mesmo em um eventual erro judiciário, este não significa necessariamente exceção, pois nem sempre se dá por fins políticos, embora sempre ocorra em agressão ao Direito.
A influência poderosa da mídia sobre nossa Corte Suprema no caso, por evidente, não se prende à mera lógica noticiosa. Parece claro que a mídia brasileira, cujos veículos de formas diferentes compartilham do apoio explícito ou quase explicito ao bloco de oposição ao governo e da repulsa irracional de nossas elites ao petismo e ao lulismo, busca um fim político e não noticioso ou moral, qual seja, produzir uma mácula na imagem histórica do governo Lula e do PT, matar politicamente o inimigo.
O processo transcorre já se sabendo, aparentemente, do seu resultado, característica típica de juízos autoritários ou de exceção. A Corte tem adotado posições de constitucionalidade duvidosa e de mudança evidente em sua recente, mas incisiva jurisprudência garantista no âmbito penal. Além da forma pouco “ortodoxa” como o julgamento se desenrola, conforme reconheceu o próprio ministro Ricardo Lewandowski.
A conclusão definitiva do caráter ou não de juízo de exceção no caso só será verificado após não apenas a decisão final, mas também pela coerência ou não de futuras decisões em casos semelhantes, mas que tenham atores diversos, como o do chamado mensalão mineiro, do “mensalão do DEM do Distrito Federal”, dos crimes do bicheiro Cachoeira, que envolvem o governador de Goiás, e aqueles do banqueiro Daniel Dantas. Para ficar em poucos exemplos.

Pedro Serrano, Professor da Faculdade de Direito da PUC-SP

sábado, 15 de setembro de 2012

Reportagem-Boato


Os limites de apelação desta revista não têm fronteiras... Note-se o que afirma a própria reportagem da Veja, como pode ser lido abaixo: "Feita com base em revelações de parentes, amigos e associados, a reportagem de capa de VEJA desta semana reabre de forma incontornável a questão da participação do ex-presidente Lula no mensalão." Que fontes fidedignas...!!! "revelações de parentes, amigos e associados" (como é do padrão de Veja...). "Reabre de forma incontornável"?? Para quem? Para os 5-6% que são anti-PT e anti-Lula de carteirinha? Reabre e ponto. O que querem é "reabrir", mesmo em depoimentos de "ouvi falar". Essa revista, na sanha e ódio direitista anti-PT sempre usa boatos como fatos. Se Lula, PT ou quem quer que seja está envolvido em algo, que se apresente PROVAS MÍNIMAS disso e que os culpados sejam penalizados na forma e no respeito aos rigores da Lei. O PT, e até quem sempre votou no partido, como eu, sabe dos muitos erros cometidos. Mas não venham apelar com baixaria e boataria. A irresponsabilidade de culpabilizar os seus adversários políticos baseando-se em "ouvir dizer" dessa revista tem passado dos limites cabíveis. Estampar boato em capa de revista não é jornalismo sério e agride a inteligência mesmo de um leitor que tenha senso crítico mediano.



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Fórum Global sobre Solos



Fórum Global sobre Solos, Berlim, Alemanha (21-22 de novembro) onde estaremos a convite da comissão organizadora apresentando palestra sobre desenvolvimento urbano e seus efeitos em solos do Brasil.

Link: http://www.iass-potsdam.de/research-clusters/global-contract-sustainability/sustainability-governance/global-soil-forum

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Na dúvida, condende o réu


Sujeito mais doido esse Lewandowski... Inventa essa estória de que não se deve considerar ninguém culpado sem provas. "In dubio pro reu" (na dúvida favoreça o réu). Uma pinóia, como diria a nossa esclarecida "opinião pública" que não diferencie "Princípio Universal" de sanha punitiva sob quaisquer circunstância. Na dúvida: condene!! Como ousa Lewandowski discordar? O acusado sem prova nos autos de sua participação em crime que se vire para provar que é inocente... Onde já se viu isso...?! Lewandowski é dessa opinião "antiquada" de que se o Ministério Público (leia-se o engavetador geral Gurgel) não conseguiu ajuntar aos autos provas robustas, e convicentes, para esclarecer o juiz dos termos da denúncia, esse não pode condenar sobre suposições ou "ouvir falar" e, neste caso, deve seguir o princípio universal do "in dubio pro reo" tão caro, até esse julgamento, ao Direito Penal. Teremos, após esse julgamento, uma experiência nova de jurisprudência a ser discutida pelos juristas, basicamente, um novo paradigma... Nada mal! Hoje Lewandowski levou puxão de orelha de Joaquim, mais conhecido nos meios feicibukianos como Batman, o líder do "julgamento do século", porque disse não acreditar (e não ter provas em contrário nos autos) de que a funcionária que recebe 1.500 reais por mês não é culpada quanto os diretores do banco, de quem apenas recebe ordens (a questão simples é: há provas?). Não seguir o Relator é quase subversivo... Merece mesmo ser chamado de "vendido" em alguns posts (aliás, os posts pararam depois que o núcleo político - leia João Paulo - saiu do foco. Voltarão em breve, pois ninguém aqui e por aí liga se funcionariozinha "mequetrefe" vai ser punida sem provas... Voltarão em breve, esperem, pois a questão aqui não é Justiça...). Muito doido mesmo esse Ministro... Esse Lewandowski, o "Ministro Subversivo", resolve condenar (e o fez em sua maioria até agora) quando há provas suficientes e absolver quando não há consubstanciação nos autos sobre a culpabilidade. É um antiquado mesmo... Resolve ter essa coragem boba, inexistente, diriam desnecessária, essa estória ríducula de ser técnico, de seguir o rito e os autos, e não se entregar aos holofotes, a pressão, ao estrelato.... No novo paradigma a se formar, será um subversivo.

Enredo sem Medo

Capa do Filme O Julgamento do Diabo (Shortcut to Happiness)


Colocou o melhor vestido.
Escolheu o melhor sapato.
Disse que só voltaria bem, mas bem mais tarde...
Criou coragem e asas.
Ergueu-se no salto alto.
Sacudiu sala, noite, vida e vestido. 
Soltou a gargalhada final. 
Havia decidido ser feliz.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

O 11 de Setembro Chileno


11 de setembro de 1973, golpe patrocindo pelos EUA e suicídio (assassinato?) de Allende. Data em que fulminaram um sonho de liberdade e socialismo ao sul do Equador. Hoje se vê a América Latina, em vários países hermanos, mesmo contra o pensamento único e uma imprensa também golpista, tentando recuperar a soberania de seus povos.

Trilha sonora: Yo pisaré las calles nuevamente (Pablo Milanés), composta em 1974.

Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.

Yo vendré del desierto calcinante
y saldré de los bosques y los lagos,
y evocaré en un cerro de Santiago
a mis hermanos que murieron antes.

Yo unido al que hizo mucho y poco
al que quiere la patria liberada
dispararé las primeras balas
más temprano que tarde, sin reposo.

Retornarán los libros, las canciones
que quemaron las manos asesinas.
Renacerá mi pueblo de su ruina
y pagarán su culpa los traidores.

Un niño jugará en una alameda
y cantará con sus amigos nuevos,
y ese canto será el canto del suelo
a una vida segada en La Moneda.

Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Palavreado

Imagem: http://www.partilhate.com


Seco se fica de palavras, uma vez ou outra, como terra que há muito não vê gota d’água. De onde nasce a palavra? Onde se esconde a danada? De onde corre, faceira ou às escondidas, para dissipar os sentimentos, como uma lufada de luz cérebro adentro, empurrando cá pra fora o que estava guardado lá no escuro do leito? Tantas vezes, ela, palavra, que nem poderia ser dita, mas se faz em sílabas que mal se apercebem da serventia ou da maledicência que tem. A palavra às vezes tem cheiro. Cheira como rosa colhida logo cedinho, ainda molhadinha de orvalho, cheiro de pão novinho, que se abraça todo gostoso ao café quentinho.  A palavra às vezes fede também. Tem cheiro de carniça. Corpo de animal morto que arranha as ventas com catinga das mais nojentas. A palavra pode ter temperatura. Atingir o peito com uma gostosura de deixar sorriso largo na cara, sorriso apaixonado, de quem recebe no ouvido as mais ternas malícias da boca bem versada em sonetos. Quem se importa se são verdades ou mentiras (essas duas coisas inventadas) se trazem calor e aconchego ao seio de quem as acalanta como suas, sem tirar nem pôr, justinhas na medida do que se quer sentir. Palavra quente dos amantes, palavras que balança o chamego de todos os dias, de todas as horas, de toda a vida. Palavra que ressuscita, dia a dia, a vida. A palavra às vezes esfria que parece pedra de gelo, vento de esquinas, cortando no gelado o infeliz a quem se destina. Palavra desatenta, que sai sem que a gente queira, e bate no coração do outro como flecha certeira, machucando o receptor com sua  ponta de aço insidiosa, ponta que não merecera, pois de nós saiu a palavra tosca, que mais diz de nós que do outro, esse outro, coitado, que apenas estava na linha certeira. As palavras têm tamanho. Graúdas, enormes. Miúdas, pequenas. E por vezes têm tamanho pra lá de suas  sílabas, essas palavras sem letras. Palavras que saem pro mundo querendo traduzi-lo em entendimento. Palavras tantas vezes que não cabem em mundo, em língua, em dialeto ou gênero. Palavras femininas, como mandioquinha. Palavras masculinas, como arranhão. Palavras todas, em desassossego. Palavras de enxurrada, matéria de terra arrastada, lambendo prosas arrancadas do mais fundo do peito. Palavras com gosto de fruta. Palavra-fruta, suculenta. Suco que escorre pela fenda cerebral e se espatifava no papel tosco. Palavras que lambuzavam a celulose limpinha do papel, com tons vermelhos, azuis, verdes. Palavra que escorre colorida, com rima, com jeito. Palavra então pintada, que serve pra tudo e pra nada, que serve de alento.


domingo, 9 de setembro de 2012

Diálogos (Olavo Bilac e Tamara de Lempicka)

Adão e Eva (1931), Tamara de Lempicka (1898-1980)

A Alvorada do Amor (Olavo Bilac, Jornalista e Poeta, 1865 - 1918

Um horror grande e mudo, um silêncio profundo
No dia do Pecado amortalhava o mundo.
E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo
Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,
Disse:

"Chega-te a mim! entra no meu amor,
E à minha carne entrega a tua carne em flor!
Preme contra o meu peito o teu seio agitado,
E aprende a amar o Amor, renovando o pecado!
Abençôo o teu crime, acolho o teu desgosto,
Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto!

Vê! tudo nos repele! a toda a criação
Sacode o mesmo horror e a mesma indignação...
A cólera de Deus torce as árvores, cresta
Como um tufão de fogo o seio da floresta,
Abre a terra em vulcões, encrespa a água dos rios;
As estrelas estão cheias de calefrios;
Ruge soturno o mar; turva-se hediondo o céu...

Vamos! que importa Deus? Desata, como um véu,
Sobre a tua nudez a cabeleira! Vamos!
Arda em chamas o chão; rasguem-te a pele os ramos;
Morda-te o corpo o sol; injuriem-te os ninhos;
Surjam feras a uivar de todos os caminhos;
E, vendo-te a sangrar das urzes através,
Se emaranhem no chão as serpes aos teus pés...
Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto,
Ilumina o degredo e perfuma o deserto!
Amo-te! sou feliz! porque, do Éden perdido,
Levo tudo, levando o teu corpo querido!

Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar:
- Tudo renascerá cantando ao teu olhar,
Tudo, mares e céus, árvores e montanhas,
Porque a Vida perpétua arde em tuas entranhas!
Rosas te brotarão da boca, se cantares!
Rios te correrão dos olhos, se chorares!
E se, em torno ao teu corpo encantador e nu,
Tudo morrer, que importa? A Natureza és tu,
Agora que és mulher, agora que pecaste!

Ah! bendito o momento em que me revelaste
O amor com o teu pecado, e a vida com o teu crime!
Porque, livre de Deus, redimido e sublime,
Homem fico, na terra, à luz dos olhos teus,
- Terra, melhor que o céu! homem, maior que Deus!"

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Pátria Minha (Vinícius de Morais)


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes.



A Ave bizarra em nuvem passageira

A tucanagem está de dar pena, mesmo! Impossível resistir ao trocadilho... Aécio caindo de bêbado pelas ruas do Rio, FHC com ciuminho e despeito eternos levando puxão de orelha de Dilma (que, ao contrário dos candidatos do partido dessas estranhas aves que pousam em cima de mros, não tem medo de esconder seu ex-presidente temendo perder votos), Serra-bolinha-de-papel com um fim melancólico e a mais alta rejeição em São Paulo desde Judas (foi substituído por Russomano-bom-para-ambas-as-partes que é , assustadoramente, nova "vedete" do conservadorismo paulistano), um mensalão de verdade que pode desembocar na privataria tucana... E, curioso, tudo isso mesmo com a complacência da grande imprensa defendendo as plumas azuladas. Estranha ave-partido de curto alcance de voo...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Poeminha da Leveza

O peso do corpo
Sobre o outro.
Amor é conforto.




O Czar

A condenação desmedida das meninas do Pussy Riot e a proibição da parada gay (74% dos russos acreditam que gays e lésbicas têm um desvio moral ou um problema mental!) são apenas pequenas sintomas de uma Rússia que, mesmo se abrindo economicamente para o mundo, mantém uma tradição feudal nas relações com o humano e com a humanidade. Resultado de uma história de totalitarismo que se inicia com seus Czares, estende-se pelo Século XX com Stálin e dá claros sinais de sobrevida no Século XXI no autoritarismo e na figura personalista de Putin. Essa Rússia do atraso, que se nega a fixar os olhos no resto da Europa e abrir suas janelas a outros ventos e pensamentos, foi muito bem descrita pelos seus romancistas (para mim Dostoiévski em especial) e pelo cinema moderno do país. Lá, também, foi uma escolha das elites fazer do país o que hoje ele aparenta ser. A cara de Putin, e da Rússia, não está nada bem aos olhos do mundo.



terça-feira, 4 de setembro de 2012

We love soils


Da série "Meu amor é pela terra":

Solo, para a arqueologia e em definição mais popular, a pele da Terra que representa a herança da história humana.

Foto (JIM RICHARDSON/National Geographic): Na Amazônia, escavações revelam a chamada "Terra Preta de Índio", solo fértil em nutrientes vegetais e em história da ocupação humana na região.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Setembro

Traz teu abraço,
Teu cheiro de flor.
Traz teu abraço casto,
Abraço casto de flor.

Foto, mão e flores: Leila Mariana Fernandes

Batalha deTitãs


Nos bastidores da eleição para a prefeitura de Recife, teremos um duelo interessante entre o Governador de maior aprovação popular do país e o Presidente (também pernambucano) de maior aprovação popular da história do país. Ou seja, ambos cabos eleitorais fortíssimos. Um tem um candidato até então desconhecido do grande público e o outro, um candidato que sempre teve um problema de carisma e aceitação pelo eleitorado. Até o momento, sem a visita de Lula a Pernambuco, Eduardo tá vencendo o primeiro round. A prefeitura de Recife é importantíssima para os planos de ambos e de seus partidos (PSB e PT), aliados no plano nacional.

domingo, 2 de setembro de 2012

O estudante de agronomia que adocicou dona Rozilda



Vadinho teria finalmente o acesso à Flor graças, quem diria meus caros(as) alunos(as), a Mirandão, um mulato  malandro e estudante crônico ("perseverante", corrigia ele) de agronomia,  que se  fazia  passar por Engenheiro Agrônomo ou até mesmo Livre Docente da Escola de Agronomia, para convencer dona Rozilda, mãe megera da beldade aquitutada, de que Vadinho era homem digníssimo, da mais alta estirpe da sociedade baiana, representante do Governador, inclusive. Com o caminho aberto, Jorge Amado descreve sensual e magnificamente (como sempre), a cena do início de namoro na escada, e nos deixa, aqui nesse manhã de domingo, a lembrar das escadas onde ancoramos nossas paixões juvenis, adultas e, oxalá, outonais:

"Tocava dona Rozilda os cimos do poder, sentia o gosto sem igual da fama; Vadinho tocava os seios rijos de Flor no escuro da escada, sentia o gosto sem igual da boca sedenta e medrosa da moça, mordia-lhe os lábios. Revelava-lhe um mundo apenas suspeitado de prazeres proibidos, ganhando a cada noite de namoro uma parcela de sua resistência e de seu corpo, de pudor, da sua oculta emoção. O desejo a consumia numa fogueira de altas labaredas, ardiam brasas em seu ventre mas Flor buscava conter-se e coibir-se. Sentindo-se, entretanto, dia a dia, menos dona da sua vontade, de recusa frágil, de relutância débil, submissa escrava do rapaz audacioso, que já se apoderara de quase todo o seu corpo queimado de uma febre sem remédio, ai, sem remédio"

Jorge Amado (Dona Flor e seus Dois Maridos, p. 79, edição da Editora Record)