Mais uma vez ele chega sorrateiro, abrindo
caminho pelos meses passados, apresentando-se todo formoso em promessas e riso
fácil. O sedutor nos reapresenta as esperanças adormecidas e enrosca a língua
quente nos nossos ouvidos ávidos de suas boas novas, de seus murmúrios de amor
sem fim, de paixão grande como o mar. Traz seu frescor com a ilusão dos dias
que se renovam com o tempo inventado. Transfigura as tristezas e os medos em notícias
de um futuro que se promete melhor. Na boca derrama os melhores vinhos. Cheira
bem, esse ano noviço, e antes mesmo de chegar já está aqui, povoando nossa
cabeça bêbada de álcool e de desejos. Lá estaremos nós, mais uma vez, atravessando
a última noite dividindo a cama entre esses dois amantes. Um nos beijará a face
em despedida enquanto o outro nos provará a boca pela primeira vez. Que o beijo
seja quente, e também doce, é tudo que queremos. Que nos faça esquecer as
promessas não cumpridas, as mentiras deslavadas do ano velhaco que se foi. Que o
abraço que chega seja bom e forte, a ponto de nos fazer esquecer que o ano que
se passa não foi de todo ruim e malvado. Às vezes foi ano bonzinho, trouxe
amigos, amores e domingos. Mas é amor passado, guardado, de modo desleixado ou com
cuidado, na nossa vida vivida. Esperamos sempre sermos mais, e melhores, com o
novo amor que chega, aquele que se apresenta de todo novo. Que esse amante nos
apresente suas novas promessas e traga as suas mentiras doces para nossa
esperança de novo menina. Seremos presas fáceis da sua lábia hábil. Ano que não
será todo de alegria, pois também parte da vida, mas ano esperançoso de mais serenos
dias, ano sem recato, sem medo, por favor, e com a necessária fantasia. Até que
um dia nos estenda a mão, pela última vez, em despedida. Mas isso é depois,
depois de outra folha rasgada e até que outro poema se faça necessário para
romper mais um último dia. Até lá, fiquemos juntos, ouvindo a lição dos anos
passados para construir em mais um ano uma vida que se chame de feliz em
retrospectiva.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Sophia
Sem manchete no jornal,
por favor!
Não precisa
alardear
O amor é
silencioso
Chega bem
quietinho
Com aqueles cabelos
saídos do banho
Traz pão para o café
E aquela falsa pretensão de nunca mais te abandonar
sábado, 2 de novembro de 2013
Cimento e reboco
O que passou não volta mais... Como assim? Deixa disso, menina. O que "passou" fica guardado. Nem foi nem volta. Fica aqui dentro, um pedaço a mais na construção que somos cada um de nós. Mania essa de se pensar um saco furado, por onde tudo passa ou se perde, atravessa ou se extravia. Somos feitos do cimento de nossas alegrias e tristezas incrustadas na carne fria ou na alma quente. E é assim que tem que ser. Tijolo por tijolo e tudo por dentro é reboco.
sábado, 19 de outubro de 2013
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Rafaella
Rafaella (Nastassja Kinski), o anjo da compreensão de Win Wenders, continua não sendo forte o suficiente para interferir na vida dos homens. É uma pena. Ficaremos em preto e branco.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Da Série "I Love Soils"
Bela passagem do livro "Nordeste" (Gilberto Freyre), sobre o solo popularmente conhecido como massapê e seu papel na formação da Civilização do Açucar e do Brasil Profundo.
"O Massapê (...) tem profundidade. É terra doce sem deixar de ser terra firme: o bastante para que nela se construa com solidez engenho, casa e capela. Nessas manchas de terra pegajenta foi possível fundar-se a civilização moderna mais cheia de qualidades, de permanência e ao mesmo tempo de plasticidade que já se fundou nos trópicos. A riqueza do solo era profunda: as gerações de senhores de engenho podiam suceder-se no mesmo engenho; fortalecer-se; criar raízes em casas de pedra-e-cal; não era preciso o nomadismo agrário que se praticou noutras terras, onde o solo era menos fértil, esgotado logo pela monocultura, fez do agricultor quase sempre um cigano à procura de terra virgem. Um dom-juan de terras. (...) A qualidade do solo, completada pela da atmosfera, condicionou, como talvez nenhum outro elemento, essa especialização regional da colonização da América pelos portugueses que foi a colonização baseada na cana-de-açúcar (...) A verdade é que foi no extremo Nordeste - por extremo Nordeste deve entender-se o trecho da região agrária do Norte que vai de Sergipe ao Ceará - e no Recôncavo Baiano - nas suas melhores terras de barro e húmus - que primeiro se fixaram e tomaram fisionomia brasileira os traços, os valores, as tradições portuguesas que junto com as africanas e as indígenas constituiriam aquele Brasil profundo, que hoje se sente ser o mais brasileiro. O mais brasileiro pelo seu tipo de aristocrata, hoje em decadência, e principalmente pelo seu tipo de homem do povo, já próximo, talvez, de relativa estabilidade. Um homem do povo [...] feito de três sangues, em outras terras tão inimigas - o do branco, o do índio e o do negro. Um negro adaptado como nenhum à lavoura do açúcar e ao clima tropical. Um português também disposto à sedentariedade da agricultura. Um índio que ficou aqui mais no ventre e nos peitos da cabocla gorda e amorosa do que nas mãos e nos pés do homem arisco e inquieto".
domingo, 8 de setembro de 2013
Hermitage
Do Recife do Capibaribe ("A Veneza Brasileira") para São Petersburgo do Neva ("A Veneza do Norte"). De malas aquáticas para a Cidade de Pedro.
sábado, 31 de agosto de 2013
Setembro
E que setembro nos traga uma certa e necessária calma.
Um cheiro de mato e de café saindo do bule.
Essências florais. Quicá, madrigais.
O violão de Paulinho.
Mas, mais que tudo, essa sensação tranquila de que tristeza e alegria são coisas desse mundo.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Abraçaço
Tem abraço que é um poço sem fundo, cabe quase
tudo. Não termina onde acaba nem começa por um fim. Abraço assim já
veio preparado antes dos braços chegarem ali. Abraço circular, no tempo e
no regaço. Aperta bem. Abraço bom exige certa força. Abraço desse tipo é
do tipo mais gostoso.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
O dom da mediocridade
Em um dia de exposição ao que há de mais
reacionário na Casa Grande, desses em que a nossa crença na humanidade
diminui um pouco mais, vale lembrar a perda de um grande homem, tantas
vezes chamado de "comunista" por estar ao lado dos mais pobres.
Dom Helder (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 — Recife, 27 de agosto de 1999).
"Quando eu falo da pobreza todos me chamam de cristão, mas quando eu falo das causas da pobreza, me chamam de comunista. Quando eu falo que os ricos devem ajudar os pobres, me chamam de santo. Mas quando eu falo que os pobres têm que lutar pelos seus direitos, me chamam de subversivo."
Dom Helder (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 — Recife, 27 de agosto de 1999).
"Quando eu falo da pobreza todos me chamam de cristão, mas quando eu falo das causas da pobreza, me chamam de comunista. Quando eu falo que os ricos devem ajudar os pobres, me chamam de santo. Mas quando eu falo que os pobres têm que lutar pelos seus direitos, me chamam de subversivo."
Coxinhas de jaleco vaiam seus colegas cubanos em Fortaleza. Vergonha! |
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Mar Sem Fim
Filosofia, Química e Sociologia. Geologia,
História e Astronomia. Tanto livro e beleza para tão curta vida e
tamanha ignorância. E o pior é ser bicho do passado, chegado num cheiro
de mofo, que adora riscar a caneta no papel macio, sublinhando os
pedaços de assombro que saltam do pensamento dos outros.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Uma tarde em agosto
Trouxe-me um poema. As mãos ainda úmidas, com
chuva entre os dedos. Tinha-o roubado de um poeta que caíra de uma das
nuvens tempestuosas daquela tarde. Era um poema de céu, de terra, de
água e sem sol algum. Era um poema
molhado, como o poeta caído das nuvens. Deixou-o em minhas mãos.
Acolhi-o como um a um pássaro. Aqueceu-me aquele poema dela, entregue
com as mãos úmidas e o amor quente que ela carrega pelo mundo, curando e
arranhando feridas com a delicadeza peculiar de sua pele quente.
Trouxe-me um poema naquela tarde úmida. Era um poema com asas. Um poema
alado, sem sol algum, que pousou em mim caído de uma poeta com mãos
úmidas.
domingo, 4 de agosto de 2013
Felicidade Furtiva
Deu aqui um troço bom. Coisa que escorrega
pela garganta, rói as tripas e dá um rebuliço danado na descida. O
inusitado ignora a gravidade. Não tem neurônio que resista. Entregam-se
um e outro a essa alegria tranquila. É felicidade furtiva,
fugidia, dessas que se tem nas noites de céu profundo, com as estrelas
furando o negrume lá no bem longe daqui. Sentem-se os sintomas
premonitórios dessa vertigem chegando de tudo que é lado. Pelo umbigo,
frio que nem perereca, e pela nuca, já plugada numa auréola. Vira tudo
uma gastura gostosa, melosa, radiosa. O troço toma tudo e já não se
explica nada. E não há explicação que valha.
Foto: Elpídio Filho (Viçosa, Minas Gerais) |
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
A Distant August
Acalma-me
tua beleza de agosto e a graça do teu olhar desnudo. A tua seta aguda
atravessa as lonjuras da minha memória do antes ou do depois da tua
presença. Tua mata escura é onde meu desejo de ser caça te aguarda. Cair
exausto no vasto abismo do teu abraço me apraz. Isso é tudo e é mais, o
que há e o que não há. Se menos fosse, seria o nada, esse espaço de
tempo inútil no qual não estás.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Tac Tic
Cada ano mais
novo que no ano passado
Passando o tempo
ao contrário
Contrariando
meu passar do tempo diário
Anita
No meio da noite Anita Ekberg finge-se de
Sylvia e banha-se na Fontana di Trevi. Mil vezes assisto e mil moedas
atiro. Ela nem aí para o tilintar úmido da prata na água fria.
Irredutível, continuarei tentando.
La Dolce Vita (Federico Fellini, 1960)
La Dolce Vita (Federico Fellini, 1960)
domingo, 14 de julho de 2013
da Série "O Ciclo do Carbono é o bicho"
Emiliania huxleyi: alga marinha com sua
carapaça feita de placas de carbonato de cálcio (os cocólitos).
Milhões de anos de acúmulo de cocólitos como esses conduziram a bela
formação geológica dos Penhascos Brancos (White Cliffs), em Dover, sul
da Inglaterra.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
sexta-feira, 5 de julho de 2013
quarta-feira, 3 de julho de 2013
terça-feira, 2 de julho de 2013
Dona da minha cabeça
Da
minha cabeça sem norte escorre uma saudade de bem longe daqui. Uma
saudade de pontes, de avenidas, uma saudade de porvir. Uma saudade que
ficou no caminho, uma vontade de persistir. Talvez vontade errante, mas
com um desejo danado de existir. Saudade ou vontade, já nem sei pra que
deus me dirigir. Só sei que tem gosto de carne. Às vezes, cheiro de
alecrim. Uma coisa é certa: É uma vontade desejosa de saudade,
expliquemos assim, essa coisa gostosa que se remexe toda dentro de mim.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Gil, versão 7.1
Grande poeta e músico singular, 71 anos hoje.
Metáfora (Gilberto Gil)
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
Metáfora (Gilberto Gil)
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
sábado, 22 de junho de 2013
Oremos
Amanheci
um pouco irmã Zuleide (será que posso pedir atestado médico a Feliciano?),
orando por você, que se recusa a aprender que protestar tem que ter como
e porquê, que não é questão de partido nem de achar que sua intenção
não é boa (e que pensa que todo mundo tava dormindo e agora "o Brasill
acordou"), mas tudo na vida tem que ter foco ou a Globo transforma sua
insatisfação num ursinho cor-de-rosa ou
numa passeata de vândalos. Orando para que você entenda as diferenças
entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e para qual a sua
demanda deve ser feita. Não peça hóstia ao pai de santo, é outro
departamento. Amanheci Irmã Zuleide Fake, para orar (muito!) para você
ler antes de postar, para se informar, para que, na sua "boa intenção",
não passe por ignorante nem inocente útil. Orando por você, que é contra
ou a favor sem nem saber porquê.
domingo, 16 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Pessoa
Nascimento de Fernando Pessoa (13 de junho de 1888), que andava de bonde por Lisboa e nunca entrou num ônibus em São Paulo.
"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei. "
"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei. "
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Praça Taksim
Revolta boa é "Primavera Árabe"
Que passa na televisão
Ou então na Praça Taksim
Talvez numa rua do Paquistão
Se for na tua esquina
No horário da academia
Ou fizer a empregada faltar
E você fazer faxina
Quero ver onde vai guardar
Essa revolta que só vai bem na Turquia
Que passa na televisão
Ou então na Praça Taksim
Talvez numa rua do Paquistão
Se for na tua esquina
No horário da academia
Ou fizer a empregada faltar
E você fazer faxina
Quero ver onde vai guardar
Essa revolta que só vai bem na Turquia
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Eric
Ontem aniversário de Eric Hobsbawm (9/06/1917 - 01/10/2012), historiador inglês nascido no Egito, intelectual hábil em discorrer sobre temas diversos. Celebro com a companhia da sua 'História Social do Jazz", com prefácio de Luís Fernando Veríssimo.
domingo, 9 de junho de 2013
Carta aos rinocerontes (César Leal, 1924 - 2013)
Não sei se estou mais presente na Terra
do que estariam uma rosa e uma dália.
Nem um milésimo das coisas que vejo diariamente
está contido em meus poemas...
Sei que o leitor poderá dizer isso agora:
"— Você não é um bom poeta! Castro Alves
é mais participante, mais exato,
transporta o mundo — ou pelo menos sua metade
no Navio Negreiro.
Mas você — que leio agora —
não me acende nenhuma luz,
agarra-se demasiadamente aos anjos,
a uma forma estéril
que não fala ao tempo,
aos pássaros,
e menos ainda ao meu coração".
Ouço-te e repito
que sou apenas pequena parte das coisas
que estão no mundo
com certeza não sou a menor parte
e, por isso, tens que me aceitar
se és um leitor e não apenas um crítico.
Se minha poesia te cansa,
peço-te: come as saladas de Souzândrade; bebe
lentamente as gotas de orvalho que fluem dos Caligramas
de Apollinaire...
Elas satisfarão tua fome e tua sede,
ou terás uma sede e uma fome tão estranhas
que suportarias ainda Maiakovski,
Evtuchenko, Voznessenki, Pound
e toda a galeria dos participantes
que ficam à tua direita e à tua esquerda?
Quanto a mim, pouco te posso oferecer:
não escrevo para los muchos
arranco de mi corazón el capitán del inferno,
establezco cláusulas indefinidamente tristes
Esgotados os estábulos aonde os teus donos
guardaram para ti alimentos tão nobres,
ainda restariam os membros do Clube dos Ultraistas,
Tzara e todos os que, à semelhança dos empregados domésticos
sopram trombetas das 6 às 6,
repetindo eternamente a contínua canção:
"somos os que andam na vanguarda do Tempo".
Quanto a mim continuarei sozinho,
solitário como um estranho rio
de um território ainda não visitado pelos geógrafos,
abrindo sem descanso a minha estrada
certo de que alguém um dia
— anjo ou demônio —
caminhará por ela até a porta do meu nome.
do que estariam uma rosa e uma dália.
Nem um milésimo das coisas que vejo diariamente
está contido em meus poemas...
Sei que o leitor poderá dizer isso agora:
"— Você não é um bom poeta! Castro Alves
é mais participante, mais exato,
transporta o mundo — ou pelo menos sua metade
no Navio Negreiro.
Mas você — que leio agora —
não me acende nenhuma luz,
agarra-se demasiadamente aos anjos,
a uma forma estéril
que não fala ao tempo,
aos pássaros,
e menos ainda ao meu coração".
Ouço-te e repito
que sou apenas pequena parte das coisas
que estão no mundo
com certeza não sou a menor parte
e, por isso, tens que me aceitar
se és um leitor e não apenas um crítico.
Se minha poesia te cansa,
peço-te: come as saladas de Souzândrade; bebe
lentamente as gotas de orvalho que fluem dos Caligramas
de Apollinaire...
Elas satisfarão tua fome e tua sede,
ou terás uma sede e uma fome tão estranhas
que suportarias ainda Maiakovski,
Evtuchenko, Voznessenki, Pound
e toda a galeria dos participantes
que ficam à tua direita e à tua esquerda?
Quanto a mim, pouco te posso oferecer:
não escrevo para los muchos
arranco de mi corazón el capitán del inferno,
establezco cláusulas indefinidamente tristes
Esgotados os estábulos aonde os teus donos
guardaram para ti alimentos tão nobres,
ainda restariam os membros do Clube dos Ultraistas,
Tzara e todos os que, à semelhança dos empregados domésticos
sopram trombetas das 6 às 6,
repetindo eternamente a contínua canção:
"somos os que andam na vanguarda do Tempo".
Quanto a mim continuarei sozinho,
solitário como um estranho rio
de um território ainda não visitado pelos geógrafos,
abrindo sem descanso a minha estrada
certo de que alguém um dia
— anjo ou demônio —
caminhará por ela até a porta do meu nome.
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