Vadinho teria finalmente o acesso à
Flor graças, quem diria meus caros(as) alunos(as), a Mirandão, um mulato
malandro e estudante crônico ("perseverante", corrigia ele) de
agronomia, que se fazia passar por Engenheiro Agrônomo
ou até mesmo Livre Docente da Escola de Agronomia, para convencer dona
Rozilda, mãe megera da beldade aquitutada, de que Vadinho era homem digníssimo,
da mais alta estirpe da sociedade baiana, representante do Governador,
inclusive. Com o caminho aberto, Jorge Amado descreve sensual e magnificamente
(como sempre), a cena do início de namoro na escada, e nos deixa, aqui nesse
manhã de domingo, a lembrar das escadas onde ancoramos nossas paixões juvenis,
adultas e, oxalá, outonais:
"Tocava dona Rozilda os cimos
do poder, sentia o gosto sem igual da fama; Vadinho tocava os seios rijos de
Flor no escuro da escada, sentia o gosto sem igual da boca sedenta e medrosa da
moça, mordia-lhe os lábios. Revelava-lhe um mundo apenas suspeitado de prazeres
proibidos, ganhando a cada noite de namoro uma parcela de sua resistência e de
seu corpo, de pudor, da sua oculta emoção. O desejo a consumia numa fogueira de
altas labaredas, ardiam brasas em seu ventre mas Flor buscava conter-se e
coibir-se. Sentindo-se, entretanto, dia a dia, menos dona da sua vontade, de
recusa frágil, de relutância débil, submissa escrava do rapaz audacioso, que já
se apoderara de quase todo o seu corpo queimado de uma febre sem remédio, ai,
sem remédio"
Jorge
Amado (Dona Flor e seus Dois Maridos, p. 79, edição da Editora
Record)
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