segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

De Serpentários e Ofiúcos

Enquanto pintavam-lhe os cabelos para uma “coloração até duas vezes mais Intensa nesse verão”, como prometia a marca de tintura, Aledjane estava preocupadíssima. Nada de grave em casa. Tudo bem com o filho, o marido acabara de sair da prisão e este mês ela pagaria a penúltima prestação da TV de 40 polegadas comprada em 36 vezes na Insinuante. Sua preocupação era de outra natureza. “Vão mudar meu signo! De-tes-teiiii!!”. O publicitário paulistano Evandro Sampaio, 37 anos, confere em um site de uma famosa astróloga high-tech como os astros ditarão sua vida nos trinta (30!!) dias seguintes e racionaliza como isso alterará seus investimentos na bolsa de valores. Eu, libriano que me dizem, penso como uma crendice da Idade das Trevas pode vicejar no século XXI e provocar semelhantes reações em tão dessemelhantes públicos.


Kabila Mulengela nasceu no Quênia em 23 de março (Mesmo dia do publicitário Evandro Sampaio!!). Portanto é de Áries. A previsão de seu horóscopo neste dia que escrevo (31 de janeiro de 2011): Últimos dias da lunação atual, que propõe conscientização dos seus verdadeiros propósitos. Momento interessante para dar adeus a velhos padrões, abrindo-se a novas possibilidades. Encare os seus receios, limitações e inadequações. Supere-os. Maturidade é fundamental. (???)
 

O florescer da Astrologia deu-se em uma época anterior ao nascimento da Ciência como método investigativo e preditivo (limitado, também ele, mas o melhor instrumento que temos até então para a previsão do futuro, considero eu). Mas mesmo no Renascimento, antes de Copérnico, Kepler e Galileu jogarem uma pá de cal na cosmologia Aristotélica, a astrologia ainda era ensinada nas primeiras universidades europeias.  Consta que Newton estudava os astros também com interesses esotéricos. O decreto de Luís XIV, em 1682, que condenou a difusão dos almanaques astrológicos, bem como o desenvolvimento científico (a astronomia passava a dominar a cena), iniciaram a derrocada na credibilidade da previsão pelos astros. O que, como vemos nos sinceros depoimentos de Aledjane e Evandro, e lemos todos os dias nos jornais, não foi suficiente para eliminar o eterno desejo humano de que algo maior conduz as nossas vidas, sejam deuses ou astros. 
Se você se aquietou, relaxe. Segundo uma estudiosa das ciências esotéricas (Que diabos vem a ser isso!!??), o astrônomo Parke Kunkle está “fazendo sensacionalismo com uma realidade milenar”. Este professor de um College de Minneapolis (EUA) ganhou seus 15.000 minutos de fama ao afirmar que “por causa da atração gravitacional que a Lua exerce sobre a Terra, o alinhamento das estrelas foi empurrado por cerca de um mês. Então surgiu um novo signo que seria o de Serpentário - ou Ophiuccus” (Que diabos pretendia com isso!!??) . Aqui abro um parêntese para tangenciar duas outras discussões que não me cabem neste texto e que pretendo explorar com mais cuidado em outros: 1) Como qualquer sorte de crendice (pseudociência??!!) tenta incorporar o termo Ciência na sua definição para tornar os seus clientes, crédulos (“Sim, claro, isso foi provado cientificamente...”). A ciência assumiu na nossa sociedade um poder mítico e de detentora da verdade factual nunca atingido antes por nenhum outro modus operandis sistematizador do conhecimento. 2) Como qualquer acadêmico, mesmo sem relevância científica entre seus pares, turbinado pela sofrível qualidade na divulgação científica da imprensa (visto que o grande público, e mesmo outros acadêmicos, as vezes não sabe diferenciar a ervilha do tomate), pode causar tamanho e desnecessário alvoroço. Fechando o parêntese, para mim não muda nada porque não se muda agora o que não existia antes. Considero (isso mesmo!) a astrologia um ridículo acreditar no ilógico, no imponderável, no fato de que a posição dos astros no momento de seu nascimento (ou quando você era apenas um espermatozoide lutando com milhões pelo óvulo mais próximo) determina seu dia ou sua vida. Alguém pode dizer de lá (E como dizem!!): “Tenha a cabeça mais aberta!”, com aquela carinha de dó de como sou “tão cartesiano” (Que diabos acham que dizem com isso!!??). Respondo que tem gente que tem a cabeça tão aberta que o cérebro cai. “Qual é seu ascendente?”, insistem. Desisto... Pior que acabo de checar Libra para o dia: Desafio de superar velhos padrões. Que diabos isso quer dizer, afinal??!!


5 comentários:

  1. Houve um momento em que a ciência alcançou poderes de questionar a veracidade da Magia, do Espiritual e do Divino. Logo não bastou para que negasse sua existência, pelo pressuposto da prova (Convence-me ou te devoro), convence-me como desejo ser.

    De um jeito, ou de outro, a ciência logo tomou o lugar de Deus, se tornou ela o suporte para desafiar e dominar o mundo, a natureza e lutar contra o sentimento de insignificância das pessoas.

    A própria ciência toma ares de religião hoje, vivemos na cultura onde a Razão impera como divindade, da razão científica, da técnica instrumental.

    Dos costumes religiosos que se deparam com essa força, alguns são destruídos, ou abandonados, outros absorvem uma estrutura analítica, matemática, de leis e metodologia determináveis. Ou seja, crenças que absorvem ares de ciência para se valerem de sua força aparentemente Racional, se instrumentalizam e pela força das propagandas se afirma ciências, crenças hoje em dia é um insulto.

    Por outro lado crenças e religiões, em seu sentido menos politizado, subsistem pela dialética das experiências de nosso tempo. Engrandecimento do indivíduo contra a insignificância, ordem contra a insegurança, poder contra as forças extra-pessoais e etc.

    Você, mon cher, sabe que sou religioso e cientista. Me direciono para a Razão Crítica e para O Divino com o desejo de transcendência e imanência, e procuro por a duas de mão dadas dialeticamente, afinal religião e ciência também são sensibilidades.

    Mas me uno a você em teu escárnio.

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  2. Meu blog, Castillo di Parole.
    http://castillodiparole.blogspot.com/

    Blog do Núcleo de Estudo de Cultura do Japão.
    http://necjpe.wordpress.com/

    Bolg de um amigo meu, muito bom.

    http://razaocritica2.blogspot.com/

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  3. Obrigado pelas considerações, Castillo di Parole! Seu misto Razão, Espanha, Religião, Itália, Ciência e Japão são muito benvindos por aqui.
    Grande abraço!

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  4. Puxa, mas como é que a ciência vai provar o improvável... como é que ela vai provar o que não vê?!? Então não é verdade que existe mais mistério entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia? Eu acreditava que sim...
    Mas sigo feliz por saber que sou de touro com ascendente em câncer...hehehe
    E vc, Clístenes, é libra com ascendente em quê?

    bjs!

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  5. Amiga Débora, obrigado pela visita!
    Coitada da Ciência... Ela não foi sistematizada para provar o improvável; seu mundo não é o da metafísica...
    Sigamos sempre atentos ao "Princípio da Incerteza" com ecos kantianos de Crítica à Razão e de Karl Popper de Crítica à Ciência.

    Concordo com você, Shakespeare e Gil: mistérios sempre hão de pintar por aí). Aliás, como não há céu, mas sim espaço, vai ver que Hamlet estava falando dos astros... quem sabe, né?!

    Gostei da provocação!! Volte sempre.

    Bjo!

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