terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Eros e Psiquê


Na manhã quente, preguiçando na poltrona entre seus livros e os sons da rua, ouviu o chamado ondulante da voz dela cruzar a sala. Tinha o clamor da urgência já deveras conhecido. Ele, disperso nas linhas que falavam sobre coisas outras do mundo, saiu refeito e inteiro a acudi-la. Por tantas vezes juntos e sempre parecia novo aquelas vozes se buscarem. Atravessou o corredor lentamente, como quem degusta a cada passo o prazer ainda por vir e que se esquiva fogosamente atrás da porta.  Ela, como era seu costume (embora culpasse o calor infernal da cidade por isto), sempre o esperava em roupas poucas e desejos enormes. O corpo esguio se alongava ainda mais para explicitar os contornos que ele sempre admirara com devoção messiânica. Para ele - sempre se apercebia disso nesses momentos - o corpo dela não precisava curvar-se a nenhuma convenção estética. A suposta perfeição dos gregos antigos ou das passarelas modernas não se fazia necessária no corpo da mulher amada. Ela, por sua vez, estremecia dentro dos braços que a envolviam forte e delicadamente. Os cheiros dos corpos, aquela exalação única da excitação que só a pele dos amantes supõe, ocupavam as narinas e o quarto. Os corpos caídos. Ela sobre ele. A cama parecendo tão pequena para a explosão de braços, pernas e bocas. Tudo antecipava o embate convulsivo dos animais se procurando: os sussurros ao ouvido, as palavras obscenas, as mãos vagueantes. Os sexos unidos. O coito. O assombro inebriante do encontro. O gozo. Os dois exaustos, consumidos na guerra consumada. O silêncio ocupando o quarto, a paz ocupando os corpos. Os seus livros e os sons da rua são nada...

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