quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ternura

Fiquei aturdido com tantas pernas e vestidos. Eram vermelhos, beges, azuis e amarelos e misturavam-se com os letreiros luminosos das lojas. Vi o som da pressa, da busca pela vaga inexistente no estacionamento, da promoção do dia. Os celulares tocando. Os cartões de crédito. Ficou combinado que as pessoas esqueceriam a fome, as doenças e a guerra. Não esqueceriam os presentes. Considerando que, milagrosamente, não ouvi uma única vez Simone cantar “Então é Natal...” e postumamente assassinar meu Beatle preferido, escapei quase incólume dessa experiência semelhante à disputa nas cavernas pelo melhor naco de carne de mamute. Meus sobrinhos de dois e sete anos teriam seus presentes. Os seus beijinhos e abraços ao lado dos embrulhos e da árvore reutilizada do ano anterior, ninar-me-iam a alma. Nesse momento que escrevo, esparramando essas pequenas memórias sobre a minha mesa de trabalho, tão plena de tudo que conheço tão bem, penso que esse sentimento a que chamam Natal valeu-me a pena, afinal.

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