quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Vestígios do Dia

Domingo. Alguns hão de concordar. Que dia é esse, hein?! Dizem que suecos e japoneses, repare que povos tão distintos, decidem-se pelo suicídio principalmente nesse dia. Especulam que os primeiros pela abundância de uma social-democracia que, aparentemente, os ausenta do labutar de viver e tornaria sem sentido a vida. Os últimos... Bom, nem carece de explicação. O fato é que, quando não se tem família, gato, cachorro, cara-remelenta-de-quem-acorda-ao-meo-dia-com-boca-a-sabor-cabo-de-guarda-chuva da noite anterior, o domingo é demasiado longo. Longo. Arrasta-se penosa e irritantemente dia-mesmo adentro. Supostamente é o primeiro dia da semana (como se nos pudesse roubar esse desprivilegio da segunda-feira...). Na adolescência parecia-me não apenas o último dia da semana, mas da vida. Fazendo excreções de minha glândula-pensante, muitas vezes pensei que então fazia uma associação entre fim-de-semana e fim-da-vida, mortalidade e outras psicologices mais. Uma amiga expert comentou que “fazia algum sentido”, o que me fez logo parecer que fazia sentido algum.
Para mim, a língua espanhola sabe questioná-lo melhor e fez o dia após o domingo ser Lua (Lunes). Segue daí que os dias de García Lorca expressam a nossa distância para os nossos astros vizinhos (Lunes, Martes, Miércoles, Jueves e Viernes). Nisso as línguas são magníficas; expressam o mundo por nós. A de Castela, neste caso, soube-me melhor o domingo.
Apesar das tergiversações, o domingo ainda está cá do lado. E, como para todo domingo, eu tenho um plano, claro: Café na padaria, literatura, ciência-trabalho, ciência-prazer, literatura, varanda, saudades, varanda, varanda, varanda... Ah! Tênis, calção, camiseta, IPod. Caminho de ruas dorminhocas; o domingo me sorri maliciosamente de soslaio; disfarço que não vejo e sigo. Afinal de contas, escuto ao longe um Pastor a lembrar que “mais fortes são os poderes de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ih!! Tô lascado, mesmo.
Beira-Rio. Corre, corre!! Vai ver que suor ajuda a expelir sais e domingos. Canto de olho de (e para) moça bonita que passa... Penso que já tenho problemas, ou soluções, demais por hora. Lá estão eles. A família veio. Cachorro incluído. Sorrio, sorriem. Nada lhes tenho contra, muito pelo inverso. Converso. Afago moleque e cachorro. O domingo desconfia, mas se sente tranquilo. Cachorro dos outros não serve.
O IPod, em sua função aleatória (hum... será que o Pastor estava certo, afinal...?!), lança-me Clifford Brown aos ouvidos e neurônios. A paisagem muda. Harmoniosamente aquele trompete vindo do passado reorganiza minhas horas. Casa. Chuveiro. Food delivery. Escrever bobagens de Facebook com “segredos de liquidificador”. Aunque esté lejos, Lunes se acerca... Tranquilo, olho pela janela. Penso mesmo em ir ao cinema. O domingo tá ainda mais desconfiado...

Um comentário:

  1. Como seria segunda-feira se não existisse domingo? Sei lá, creio que acordaríamos na segunda com cara de sexta. O bom do domingo é esquecer que existe algo chamado semana, às vezes nem termina o domingo e temos que estar na segunda, ou melhor, mal entramos no domingo e segunda nos espera. As horas voam no domingo, acho que os segundos passam mais rápido, deve ser a pedido daqueles que torcem para que ele acabe. Domingo sem família, cachorro, bagunça para organizar, semana para planejar, saudade, soneca... não tem sabor desse descontraído dia. Deu uma saudade dele. Já... Foi tão rapidinho ontem!

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