segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Calcanhar e a Palavra



Poucas vezes, diria pouquíssimas, viu-se o esporte que une essa nação continental ser tão bem representado dentro e fora dos campos. Um dos idealistas de uma época de magia do futebol que precisa ser reinventada. Sua magnífica geração, que culminou com o maior time de futebol já criado (a seleção de 82), foi talvez a mais injustiçada da história quando fomos desclassificados (o mundo perplexo...) pela Itália. A derrota serviu de desculpa para a feiura da seleção de 94. Futebol burocrático,  campeão sem encantamento, que alguns chamaram de evolução tática. Preferia o sonho sonhado por Telê e materializado nos pés de Zico, Falcão e Sócrates. Outro tempo. E o sonho foi além dos campos. A democracia corintiana: o futebol pensado muito além dos porões dos cartolas, onde a paixão vira, somente, negócio e negociata. Utopia e exemplo em um período político ainda tão obscuro, com tantos ecos recentes do passado de exceção. Coragem. A centelha de esperança, essa da arte com a bola e da política nas ruas, da transformação social, punho levantado, após o gol e nas praças, pelas Diretas Já. O calcanhar e a palavra. Armas quentes desse magistral atleta politicamente engajado. Que as brincadeiras de Neymar, quem dera, pudessem nos salvar em um mundo no qual Ronaldo e Ricardo Teixeira se abraçam. O ex-jogador exuberante e o que há de mais feio no esporte, o laranja perfeito para o simuclaro de uma copa de interesses entre os quais o esporte e seu poder de conciliação nacional são o menos importante. O futebol como fantasia da recriação do mundo, do país, da beleza, mais uma vez relegado a segunda plano. Como poucos, como pouquíssimos, farão ainda mais falta o calcanhar e as opiniões rentes do Dr. Sócrates.