quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conferência Internacional Sobre Solos Urbanos

Participando como membro do Comitê Científico na 7a Conferência Internacional Sobre Solos Urbanos, Polônia, 16 a 20 de setembro de 2013.
O solo desempenha diversas funções fundamentais, tanto nos ambientes agrícolas como urbanos.
Prazer e responsabilidade em levar o nome da Ciência do Solo do país para mais este evento.





quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Alegria



Ter o corpo deitado no ar. 
Sentir a brisa como um beijo líquido. 
Os sentidos se confundindo.
O desejo feliz que se põe a possuir a alma. 
Permitir, ceder graciosamente.
Por fim, deixar entre os braços aninhar-se a flor. 
A cara salpicada de cores. 
Pequenas poças de chocolate. 
Os dedos lambuzados, lambidos, pela língua que roça o arco-íris. 
O pote de ouro. 
O sorriso se esparramando, sem ter do quê, assim de graça. 
Quem dera todo dia a alegria de um dia. 


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Vestito di Carnevale



A boca é silêncio,
Enquanto a alma toda é gritaria.
Sem largura nem fundura,
Mas fantasia em calmaria.

Nos teus ouvidos moucos,
Minha língua lambe pirulitos.
Mas tua pele repousa,
Inerme em demasia.

A troça em casa,
De janelas fechadas,
É arremedo de folia.

O desejo em gavetas,
Arranhado pelo tempo,
Aguarda a alforria.


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Da Série "I Love Soils"

Mosaico de culturas (batata, aveia, flores, milho...) e solos em Lexiaguo (China). O belo vermelho do solo deve-se aos minerais presentes (óxidos de ferro).




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sereia da Pitomba

Esse riacho, que de vez em quando beija o mar, tem um poder rejuvenescedor que é uma coisa séria. Você entra com 112 anos e sai com 16... Dizem que uma fada, de tranças rastafári e olhos cor de pitomba ao sol, vem todas as manhãs e joga um poção de saliva de sereia (razão para tamanho descabido de voltar o tempo). Quase peguei a danada no flagra um dia desses... Mas ela entrou na boca do primeiro peixe que passou e se foi, carregando a poção num saco de plástico biodegradável.

Foto: Lucas de Sá, poucos segundos após o peixe fechar a boca

Casas Bahia

Suor. Tinha acordado molhada, ofegante, em desespero de causa e de vida. Foi um sonho sem precedentes, dos mais inquietantes, delirantes, que ela já havia ousado sonhar. Nesse mundo onírico, ela sempre fora mais permissiva que na vida cordata, acordada, que lhe enquadrava ornamentos e comportamentos. Acordara assustada com as possibilidades desse devaneio... Dava arrepio na espinha e cócegas no estômago. Fazer um upgrade, isso, sim, era o que queria quando o suor ainda lhe escorria pelo corpo, com o cobertor grudado nas pernas úmidas e a boca seca de água e desejo. Levantou, tomou seu café de toda manhã. Decidiu não mais sonhar. O desejo morria em suaves prestações.

A Jovem Adormecida (Pablo Picasso, 1935)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Mar Morto

"Mar morto foi o primeiro livro de Jorge Amado que li. Li e adorei a história de amor passada no mar da Bahia, um romance de fazer sonhar, cheio de poesia. Eu estava longe de imaginar que um dia conheceria o autor, que por ele me apaixonaria, que seria por ele amada e que, juntos, viveríamos 56 anos de puro e verdadeiro amor. Eu, Lívia, nos braços de meu Guma, Jorge, com direito a brisa do mar e moqueca de siri-mole" (Zélia Gattai Amado).



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Secessão, Escravidão e Lincoln

Acabo de ver "Lincoln" (Steven Spielberg), 12 indicações. Apenas uma delas entendo perfeitamente: a atuação de Daniel Day-Lewis no papel título. Se não se tratasse de um filme sobre um ícone americano em um momento crucial no país (naquela e nessa época), dificilmente chegaria a tantas indicações... Não é um grande filme. Lendo os críticos de cinema dos EUA é raro encontrar algum que realmente analise o filme sem se referir quase que exclusivamente à lembrança do Presidente que acabou com a escravidão e, em muito menor proporção, às suas características artisticas ou técnicas (que não duvido que as tenha, dado meu pouco conhecimento de cinema). Aliás, não fosse pelos soldados negros reclamando direitos no ínicio do filme, a abolição pareceria única e exclusivamente um "presente" dado por Lincoln, pois o diretor não faz nenhuma menção a luta dos afroamericanos pela sua liberdade. Os dilemas do Presidente em um momento histórico que terminaria uma guerra e reunificaria o país são realmente bem interpretados pelo Daniel Day-Lewis; dado o contexto da festa, dificilmente ele não leva o Melhor Ator. Dito isso, a festa é norte americana e entendo que assim seja Hollywood. Prefiro a escolha de Cannes, com "Amour" (Michael Haneke) que talvez leve o de Melhor Filme em Língua Estrangeira.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Fome e Desperdício


Um relatório recém publicado, coordenado pelo Dr. Tim Fox (Institution of Mechanical Engineers, Inglaterra) estima que de 30 a 50%,  ou seja, de 1,2 a 2 bilhões de toneladas, de toda a comida produzida no planeta é perdido antes de atingir um estômago humano. O documento completo (em inglês) pode ser acessado aqui: Global Food, Waste not, Want not.

Entre as causas da fome não se encontra a produção de alimentos (Malthus ainda não nos atormenta - se é que fará isso algum dia...). Aliado a desigualdade econômica e social, o desperdício que vai desde a colheita, transporte e armazenamento até a comida deixada no prato, são as reais causas dessa vergonha imensa que é a fome. A dívida com os que dormem e acordam com esse flagelo, mesmo se um dia for "paga", continuará um monstro a nos assustar pelo fato de que nunca deveria ter sequer existido.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Mar à Vista


Praia Bela, Paraíba (Foto: Célia Hueck)

 A vida às vezes segue devagarzinho, como algodão levado por brisa leve. Mas só às vezes. Inaudível barulho de passos lentos de algodão atravessando o dia. Um rio lento corre nesses dias raros de brisa leve e silêncio. Vida, algodão, dia, silêncio e rio atravessam a gente como um sopro. Devia ser assim. A vida devia ser um rio que serpenteia em silêncio pela vida toda, mas quase nunca tem os dias este vestir-se de rio e de silêncio. O barulho é audível. A cidade nos constrói de cimento, de escapamentos, de encanamentos, de desencantamentos. Escapar das janelas pequenas, sem horizonte, é tão urgente que faz cócegas na barriga só de pensar. A montanha tem meus amores guardados, escondidos, e para ela entrego meu corpo suado, com ela também me acerco aos horizontes sem fim da alma que observa as alturas e as planuras. Nela busco o horizonte com pedaços cortados de pão de açúcar. Um mar de montanhas, como as de saudades de Minas, onde a alegria me achava com relativa frequência. Mas o horizonte é sempre maior, mais longínquo, mais tirano e submisso, inacessível e todo aberto, na areia branca que arranha e lambe os pés molhados. Escolho o mar, para onde vão os rios, como os meus passos. O mar, que em seus dias de calmaria, também é uma planura sem fim. Onde as crianças se molham de alegria e entregam o sorriso salgado. É onde o meu silêncio também encontra a brisa, o barulhinho bom das ondas. Eternas, sem desencantamentos. O mar é como um rio que atravessa a vida. Devagarzinho. O mar parece de algodão, doce, com crianças olhando as ondas e lambendo os dedos.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ódio e "Cordialidade"

Ontem na TV Cultura foi apresentado o efeito do Programa Bolsa Família sobre a mudança de vida das pessoas, dando-lhe um impulso inicial para sair de uma situação de pobreza extrema até uma condição de independência do Programa. As vezes escuto, entre estupefato e irascível, algumas pessoas da "classe alta", algumas delas putas da vida porque não conseguem mais arranjar "domésticas" (essa profissão de país subdesenvolvido com cheiro de escravidão) a preço irrisório e sem direitos trabalhistas, de que esse seria um Programa de "Bolsa Esmola", que as pessoas se acomodariam e receberiam isso para o "resto da vida". Os dados mostram o contrário, mas elas insistem. De onde vem tanto egoísmo e ignorância? Ódio de classe, será? Mas esse não é um país tão "cordial"...? Todos querem um chance de crescer: miseravéis, pobres, ricos, classes de A a Z. Mas alguns nem sequer tem como fazer isso pela miséria, absoluta teia da desigualdade, da injustiça, na qual estariam presos se uma mão a elas não se estendesse para o primeiro passo. Uma parcela da nossa "classe média alta" é de um egoísmo, de uma ignorância e de uma petulância que nasce dos dois (do egoísmo e da ignorância) que nos entristece e envergonha.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Beijo


Entre o desejo e a boca, 
Uma distância de hálito. 
Entre o desejo e a boca, 
O abismo.

Foto: "O Beijo", de Alfred Eisenstaedt (1945).