One more little thing for the Bucket List (things to
do before you die): A Balloon Flight... A few days to go!
terça-feira, 29 de novembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
Um Corpo que Cai
Riding with Death, Jean-Michel Basquiat, 1988 |
domingo, 20 de novembro de 2011
A Rede Vespa
Não há nada que um cubano goste tanto como guardar segredos.
Gabriel Garcia Márquez
O Brasil não é um país para amadores, dizia Tom Jobim. A frase poderia ser muito apropriada também para Cuba, um país que parece perdido (ou parado) no tempo graças a um anacrônico bloqueio e as ainda poucas concessões do próprio governo cubano. Abertura sem perder as conquistas da Revolução em educação, saúde, esporte e cultura será o maior desafio que o país caribenho tem a enfrentar. O cenário parece ainda mais difícil para um país declaradamente comunista frente a um mundo capitalista em crise, a iminente morte de seu Comandante en Jefe (sem um substituto com o mesmo carisma entre seu povo) e a ainda sempre influente oposição da comunidade de cubanos exilados na Flórida, a qual nenhum aspirante a Presidente estadunidense pode iniciar a campanha sem beijar as mãos. Um país e uma situação, enfim, de difícil análise e previsibilidade de desdobramentos, mas a caminho de irrefreáveis mudanças nos próximos anos. A imagem do país, para várias gerações de brasileiros, está intimamente ligada A Ilha, de Fernando Morais. O livro, que se tornou um verdadeiro ícone da esquerda nos anos 70, teve sua primeira edição em 1976, seguida de 30 reimpressões e uma atualização em 2001. À época do lançamento, a Guerra Fria estava no auge e os passaportes brasileiros estampavam “Não é válido para Cuba”. Naquela atmosfera, o autor conduziu três meses de entrevistas no país e nos deu a primeira ideia mais apurada do que se passava na Ilha. O polêmico livro foi acusado de fazer apologia da Revolução Cubana, tendo sido apreendido pela polícia em dois estados. O autor retorna ao tema Cuba com seu mais recente livro (Os Últimos Soldados da Guerra Fria, Companhia das Letras, 2011, 412 p.) que acabo de ler. O livro conta, de maneira agradavelmente romanceada, a saga de 14 agentes secretos cubanos (doze homens e duas mulheres) que são enviados à Flórida no início dos anos 90 como supostos desertores ou exilados do Regime cubano. As dificuldades materiais (devido aos parcos recursos financeiros disponibilizados por Cuba) e o sofrimento desses agentes, que precisaram abandonar família e amigos, sendo tratados como desertores pelos que não sabiam as suas verdadeiras histórias, são humanamente relatados pelo autor. O objetivo deste grupo (batizado de Rede Vespa) era debelar tentativas de ataques terroristas financiados por cubanos anticastristas contra pontos turísticos de Cuba. Depois da queda da URSS e as dificuldades decorrentes para o país, como a perda de produtividade das lavouras de cana, o turismo passou a ser a principal atividade econômica de Cuba. Deste modo, os ataques pretendiam mostrar que não era seguro fazer turismo na Ilha e, assim, atingir diretamente a economia e o governo de Fidel Castro. “A opinião pública internacional precisa saber que é mais seguro fazer turismo na Bósnia-Herzegovina do que em Cuba”, alardeavam líderes anticastristas na Flórida. O livro detalha ainda aspectos pitorescos da relação entre EUA e Cuba, como a admiração de Bill Clinton por Gabriel Garcia Márquez, o que permitiu o escritor colombiano ser portador de importantes documentos entre os países, e o oportunismo do governo cubano ao liberar doentes psiquiátricos e criminosos para o exílio quando Jimmy Carter resolveu reeditar a chamada Lei do Ajuste (permissão para que qualquer cubano que pisasse solo americano tivesse asilo político e status de residente permanente). O trabalho de pesquisa e entrevistas empreendidas por Fernando Morais torna o livro uma peça jornalística de elevado valor, que se complementa com uma narração com bons recursos literários que tornam a leitura bastante fluente e agradável, lembrando mais um romance policial que uma reportagem. Uma fonte a mais para aqueles que se interessam pela história e os destinos daquele país.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
O Caldo Estratosférico
Foto: Alessandra Blanco |
O caldo de dona
Rosa é coisa rara... A primeira vez que o provei cem anjos tocaram trombetas no
céu e duzentas virgens perderam a cabeça e a noção. Tem um sabor divino o caldo
de aratu de Dona Rosa. Na segunda colherada que dei apareceu um clarão no meio
das trevas e um cometa de calda gigante atravessou a estratosfera. Choveu ouro
em pó das alturas celestiais. Com uma gotinha de pimenta, então, foi à
perdição: parecia a Beija Flor entrando na avenida... Cada sorvida era som de
cuíca de escola campeã. Alguém pode achar que é exagero, essa minha descrição. Vá
lá a Tamandaré e prove. Tal como o Rock in Rio ou um show dos Stones, farei uma
camiseta “Eu Fui”.
O Fluxo simétrico da memória
A Persistência da Memória (Salvador Dali, 1931) |
“Agora, à distância, vejo
melhor as coisas passadas”, ela disse. A memória, então, parecia uma região
cerebral entrecortada por diferentes acidentes geográficos. Pequenos montes e
vastas depressões. Altas montanhas e estreitos vales. A memória era um espaço.
Apenas no passado podemos ver o tempo, o nosso tempo vivido, como um espaço. O
que foi mais significativo e mais tocou a emoção, ficou consolidado como uma cordilheira
nessa região mnemônica. Se algo se perdeu entre as conexões sinápticas, formaram-se
vales onde correm rios de esquecimento. Continuo ouvindo-a e não consigo
associar fatos, datas e acontecimentos da mesma forma e na mesma sequência. As
impressões momentâneas daqueles episódios na vasta planície de sua memória
aparecem distorcidas na minha mente. Há apenas um tempo real, no presente, que
é o tempo no qual se recorda. É confuso o presente, não tem noção espacial,
geográfica, cerebral. Não sabe ainda o que ficará gravado ou será esquecido. A
erosão ainda não correu ventos e águas no presente, não moldou as superfícies
que, por fim, me permitirão recontar, reinventar, essa história e moldar os
contornos difusos das identidades, das intenções, dos gestos. Busco os dados,
tento refazer o passado como ela o registrou visível na minha memória só minha,
tão pessoal, intransferível... Inútil. Outras são as marcas que sulcaram a
terra das minhas recordações e me perco no meu labirinto de lembranças, sem
delinear o espaço onde nossas memórias se encontrariam e caminhariam juntas,
até o momento presente. Tento reconstruir uma memória do outro, mas acabarei
criando uma personagem a qual darei vida e colocarei mentiras na boca.
Inventarei fatos e teias, evocarei o passado como um monstro que trarei à luz com
essas minhas verdades inventadas.
Recordo que era domingo, acho. Poderia ser segunda-feira. O dia que
a conheci seria útil de qualquer maneira, pois me lembro do vestido colorido e
das alegrias daquele outro tempo. O espaço aqui se delineava como uma linha
reta ou sinuosa, dependendo de que maneira eu decidisse conectar os fatos desde
aquele primeiro momento, o momento que a vi. Do mesmo modo, seguindo essa linha
imaginada no tempo e no espaço, eu poderia fazer o tempo correr para trás. Assim,
eu a veria agora se transformando no regredir dos anos em algo que eu desconhecia
até então, no que ela não é hoje, aquela outra pessoa que habita o pretérito. A
ideia absurda, essa da quântica, de que o tempo pode seguir seu fluxo do
passado para o presente ou do presente para o passado, me fazia agora transmutá-la
desse objeto tangível, do qual conheço humores e cheiros, no algo que ela era
naquele primeiro instante: um sorriso e um vestido florido, apenas. Talvez
nessa perspectiva que a Física me concede, eu desejasse mudar ou alterar o nosso
passado. Assim eu poderia, quem sabe, dar a cada acontecimento o seu devido
valor, nem mais nem menos. Talvez assim eu pudesse ter criado mais montanhas e
cordilheiras onde reinariam as recordações que a geografia do meu cérebro se
regozijaria em trazer-me a tona. Correriam os rios do esquecimento nos vales
sulcados dos eventos tristes que essa minha máquina do tempo quântica poria em
sequência ordenada, um fato atrás do outro, na ordem que eu bem entendesse. “É
você? Onde está?”. Escrutino o passado, invoco os deuses e os fantasmas da
memória. Eles respondem, sempre. Mas tenho dúvida em alterar seus significados
e suas danças ao redor do fogo. Tenho apenas as recordações, essa campina
imensa onde se espraiem feridas e bálsamos. Reluto em visualizar outra dimensão,
que há ou que se imagina possível. Vejo os cacos se espalharem pelo chão, nunca
os vi se juntarem e reconstituírem o vaso novo onde deitarei as flores do passado que
se reverte. Tento ter lembranças do futuro, abolindo a simetria do fluxo temporal.
Continuo ouvindo-a derramar sua memória na minha percepção. A partir dela, do
concreto que é ela, posso ver alguém esticando a língua da relatividade e, por
fim, sentir o fluxo do tempo e o espaço da minha memória ser povoado pelas
verdades inventadas que regariam flores amarelas.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Garotas de Meia Calça (Bukowski)
...circulo com o meu carro
espiando suas pernas
satisfeito por saber que jamais farei
parte nem de seus paraísos nem de
seus infernos. Mas os batons escarlates naquelas tristes bocas
que esperam! Seria delicioso
beijar cada uma delas, uma vez que fosse, por completo,
mas o ônibus as pegará primeiro.
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