sábado, 31 de agosto de 2013

Setembro

E que setembro nos traga uma certa e necessária calma. 
Um cheiro de mato e de café saindo do bule. 
Essências florais. Quicá, madrigais. 
O violão de Paulinho. 
Mas, mais que tudo, essa sensação tranquila de que tristeza e alegria são coisas desse mundo.


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Abraçaço

Tem abraço que é um poço sem fundo, cabe quase tudo. Não termina onde acaba nem começa por um fim. Abraço assim já veio preparado antes dos braços chegarem ali. Abraço circular, no tempo e no regaço. Aperta bem. Abraço bom exige certa força. Abraço desse tipo é do tipo mais gostoso.


terça-feira, 27 de agosto de 2013

O dom da mediocridade

Em um dia de exposição ao que há de mais reacionário na Casa Grande, desses em que a nossa crença na humanidade diminui um pouco mais, vale lembrar a perda de um grande homem, tantas vezes chamado de "comunista" por estar ao lado dos mais pobres.
Dom Helder (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 — Recife, 27 de agosto de 1999).

"Quando eu falo da pobreza todos me chamam de cristão, mas quando eu falo das causas da pobreza, me chamam de comunista. Quando eu falo que os ricos devem ajudar os pobres, me chamam de santo. Mas quando eu falo que os pobres têm que lutar pelos seus direitos, me chamam de subversivo."



Coxinhas de jaleco vaiam seus colegas cubanos em Fortaleza. Vergonha!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mar Sem Fim

Filosofia, Química e Sociologia. Geologia, História e Astronomia. Tanto livro e beleza para tão curta vida e tamanha ignorância. E o pior é ser bicho do passado, chegado num cheiro de mofo, que adora riscar a caneta no papel macio, sublinhando os pedaços de assombro que saltam do pensamento dos outros.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Uma tarde em agosto

Trouxe-me um poema. As mãos ainda úmidas, com chuva entre os dedos. Tinha-o roubado de um poeta que caíra de uma das nuvens tempestuosas daquela tarde. Era um poema de céu, de terra, de água e sem sol algum. Era um poema molhado, como o poeta caído das nuvens. Deixou-o em minhas mãos. Acolhi-o como um a um pássaro. Aqueceu-me aquele poema dela, entregue com as mãos úmidas e o amor quente que ela carrega pelo mundo, curando e arranhando feridas com a delicadeza peculiar de sua pele quente. Trouxe-me um poema naquela tarde úmida. Era um poema com asas. Um poema alado, sem sol algum, que pousou em mim caído de uma poeta com mãos úmidas.


domingo, 4 de agosto de 2013

Felicidade Furtiva

Deu aqui um troço bom. Coisa que escorrega pela garganta, rói as tripas e dá um rebuliço danado na descida. O inusitado ignora a gravidade. Não tem neurônio que resista. Entregam-se um e outro a essa alegria tranquila. É felicidade furtiva, fugidia, dessas que se tem nas noites de céu profundo, com as estrelas furando o negrume lá no bem longe daqui. Sentem-se os sintomas premonitórios dessa vertigem chegando de tudo que é lado. Pelo umbigo, frio que nem perereca, e pela nuca, já plugada numa auréola. Vira tudo uma gastura gostosa, melosa, radiosa. O troço toma tudo e já não se explica nada. E não há explicação que valha.

Foto: Elpídio Filho (Viçosa, Minas Gerais)