segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Menschliches, Allzumenschliches

"Toda crença no valor e na dignidade da vida se baseia num pensar inexato; (...) porque cada um quer e afirma somente a si mesmo"

Ilustração: Hermes Prado Jr

domingo, 30 de dezembro de 2012

Bravata de ano Novo (ou Reciclando Esperanças)

Eu me desejo um estupendo 2013. Não me convencerão que o tempo é uma abstração humana. Acatarei sem discussão que Primeiro de Janeiro realmente existe; farei dele mais que resolução, nitidez. Se possível em tela planíssima, LCD de 56 polegadas e Blue–Ray acoplado. Aceito o Relógio e seus persistentes segundos, um a um. Ele marcará de fato o que chamamos “passar das horas”. O Tempo, “esse senhor tão bonito”, ser-me-á amigo e companheiro. Embriagar-nos-emos juntos, abraçados, dois pinguços loucos e serenos rindo do nada. Atravessarei a última noite desse ano moribundo como quem passa de uma dimensão à outra. Einstein que me jogue os dados. Relativizar é tudo. É isso: quero relativizar mais... Mas muito mais. Desejo a meus amigos e amigas que façam o mesmo. Façamos com que 2012 se envergonhe das molecagens cometidas e das alegrias que ficou devendo, ano mal pagador. Como será Ano Velho, caquético cadáver, façamos a gentileza de deixar que nos lembre que também nos beijou os lábios com suspiros de plenitude, agradável memória que se faz passado no presente. Vá lá... Perdoemos suas falhas, ano fugidio, chato, molhado, enxuto, passado. Chamemos 2013 para conversa de pé-de-ouvido. Que nos sussurre suas promessas e vantagens, ano jovem, sedutor, cheiroso. Que acreditemos que é Ano dito Novo, farto, ano-criança. Traz-nos a insensatez da esperança. Acaricia-nos, beija-nos, lambe-nos as feridas laceradas pelo teu decaído antecessor. Dá-nos o Tempo da Delicadeza, entidade lúcida, ampla, que sem o sabermos conceituar, sentimos seu passar nos pélos que crescem na cara, nas orelhas, nas partes pudicas. Sim, Ano Nascido, dá-nos a lucidez da esperança.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Memória de Cana e de Cidadania

"Foto-Livro" editado pela Profa. Vera Acioli (Pós-Graduaçao em História da UFPE) e Valéria Santos (educadora, historiadora e "ex-odontóloga") no qual utilizaram gentilmente meu poeminha "Sísifo e a Cana" para abertura e minha consultoria agronômica para os termos (no linguajar do trabalhador da cana) relacionados ao cultivo da cana de açucar. Uma cooperação com outras ciências que muito me apraz.



Aos "Doms"

Nesta época do ano, com uma simbologia escandinava com suas renas e neve invadindo a quentura dos trópicos, quando o lúdico (para crianças e adultos) se transforma em sacolas de Shopping Centers enquadradas por uma árvore que acende-e-apaga-acende-e-apaga-acende-e-apaga importada do clima temperado, quando apresentadoras de TV ensinam como conservar o peru e o chester que "sobraram" da "ceia de natal" nesse país ainda tão injusto, quando todos se transformam em pessoas tão boas e piedosas que levam a outra metade da humanidade a sentir vergonha de sua humanidade tão imperfeita, quando atropelam as pessoas na faixa de pedestres para não perderem um segundo das compras, quando todos, numa espécie de histeria grupal, atendem ao pedido comercial de comprarem ao mesmo tempo o que no mês seguinte estará pela metade do preço, nessa época que foi escolhida para o impossível desejo de felicidades para "todos", quando se não participas da hipnose coletiva és um "insensível", quando uma celebração de um nascimento é esquecida mesmo pelos milhões que dizem nela acreditar, a pergunta que me vem é quando e porque começamos tudo isso? Claro está que não somos contra o amor, a bondade, o bem (pelo menos não uma grande parte de nós, humanos). Claro está, e que assim seja, que desejarei alegrias para os que amo, neste dia e em todos os outros. Claro está que a maldade também existe, em dezembro e em qualquer mês do ano, e que lá no fundo todos sabemos que poderíamos fazer muito mais pelos outros e não o fazemos. Claro está que esse papo de perdão (especialmente do tipo sincero) é característica rara nos seres humanos. Claro está que escolhemos um "modelo" de vida baseado no consumismo desenfreado, nas ilusões fáceis, que se vê mais exacerbado, atingindo seu ápice, nessa época "natalina". Nesta época tão ligada ao cristianismo (apenas uma entre tantas outras religiões), desejarei que todos se perguntem os "porquês" e "para quem". Eu, religioso que não sou, trago a minha mente a imagem de dois homens da Igreja Católica (poderia ser de qualquer outra e mesmo ateus). Dois homens de uma "outra Igreja", quase subversivos se vistos pela ótica de padres acrobatas e cantores de auditório (e não vejo mal na música ou na acrobacia, fique mais uma vez claro), de papas e pastores anacrônicos que olham apenas para o "além", o "paraíso", a "eternidade" e esquecem a vida dura e injusta de suas "ovelhas" mais necessitadas (e com isso, está cada vez mais claro, espero, reconheço que há entre eles seres admiravéis, verdadeiros cristãos que se colocam ao lado do povo mais sofrido), dois homens que sabem que o amor e a igualdade devem estar (pelo menos também) na vida terrena. Trarei neste Natal a imagem de Dom José Maria Pires e Dom Helder Câmara. O primeiro arcebispo negro deste pais mestiço e o que era chamado de "comunista" ao perguntar o "porquê" dos pobres terem fome. Dois grandes homens, aqui dos tristes e quentes trópicos, que inspiram tudo o que foi esquecido (e forçosa e hipnoticamente lembrado pelas luzes ofuscantes desse outro Natal). Sendo assim, ao lado de cristãos como esses, com homens como esses, que levam a conscientização do povo excluído dessas luzes todas e dos Shopping Centers, dos oprimidos, dos marginais (os que estão na margem das estradas, levando na cara a poeira levantada pelos carros de luxo, segundo um deles), a esses homens que ensinam a lutar, a buscar os seus direitos, a reivindicar, a enfrentar o opressor. Nesse Natal eu acredito e desejo a todos.


sábado, 22 de dezembro de 2012

Um Fiorde Escandinavo

Da série "Lugares para se visitar antes de bater as botas" (Versão 2013): Navegar por um Fiorde na península escandinava. Uma absurda beleza geológica produzida pelo derretimento de glaciares.


Na Cidade de Pedro

Da série "Lugares para se visitar antes de bater as botas" (Versão 2013): Museu Hermitage (São Petersburgo, Rússia).

Este museu, by the way, foi palco de um extraordinário filme de Aleksandr Sokurov ("A Arca Russa") que condensa três séculos da história da Rússia em uma única tomada de 87 minutos.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Canvas White


O silêncio e o desejo romperam as janelas da casa. A alma, castiça até então, deu-se mãos ao corpo pagão e foram brincar no pátio. Sem os medos da chuva, dos dias cinza, da inflação, das mortes no jornal, dos olhares de descontentamento com a alegria dela que se espalhava pela praça. A força que encontrara vinha de onde tudo se faz desassossego, da inquietude serena e lasciva da sua vida sem janelas. Havia nascido na solidão das horas secas, agudas, escuras, essa força dela. Do ventre do medo, junto às vísceras que inchavam a barriga nojenta, purulenta, desse desafeto da liberdade, ela fermentou seu dia novo. Nem deu bola para os dias sem sol ainda a atravessar. Não há liberdade sem conta a pagar. O pedágio do caminho novo era devido. Pagaria com o saldo de sorriso que lhe sobraria a partir de então. Sem tempo mais a perder, recolheu os abraços amigos espalhados pelos continentes e vestiu-se dessa couraça que apenas aos livres se pode conceber. Sorriu leve e docemente com minhas palavras. Era livre.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Da Série "I Love Soils"

Gosta do cheirinho-de-terra-molhada? Conheça a responsável: Streptomyces coelicolor, bactéria que deposita a substância Geosmina no solo (e no seu nariz) a cada chuva... Para a Mitologia Grega, a essência circulava nas veias dos deuses!


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12/12/12

Hoje é a data 12/12/12. O século não aparece, pois quebra o encanto. Mas estamos no século 21 reverenciando crendices do século 13. A “Numerologia” (o “logia” é para dar ares de “ciência”) indica "energia positiva para as negociações, para as uniões, os contratos e quaisquer tipos de acordos ou transações" (Atenção: se você é Chinês, Maia, Marciano ou ateu, não arrisque assinar nenhum contrato hoje, pois segue o calendário cristão e você pode não ser contemplado). Na soma de 12/12/12, segue a especialista nesta “ciência oculta”, obtemos o número 36 e 3+6= 9 (porque ela escolheu somar e não subtrair, o que daria 3, me é desconhecido, mas deve ser porque somar dá mais “vibração positiva”). De todo modo, ela garante que o número 9 traz sabedoria e maturidade (teimoso, sigo acreditando que esses dons vem com idade e experiência). Também brinquei com os números e, pasmem, ao promover o seguinte cálculo (1x2) + (1x2) +(1x2) obtive o número 6 (também conhecido como meia dúzia – será que por apelido tem o mesmo valor para a esfera cósmica?). Para mim isso significa que irei encontrar Júnior hoje, grande camisa 6 do Flamengo da minha adolescência. Algum outro cálculo a meu gosto me indicará a hora e o endereço do abraço no craque. Já que a numerologia me permite, farei (1+2) + (1+2) + (1x2) = 8 e posso me sentir a distância de apenas 1 unidade da sabedoria. Nada mal... Isso se os Maias estiverem errados com o seu 21/12/12. Ops... Peraí!!! A soma (com o dia invertido, pois gosto de brincar com números...) dá 36 também!! Será que o Fim do Mundo é uma decisão sábia? Muitos acham que sim...


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Lula e a Obsessão da Casa Grande

Aprovado por 80% dos brasileiros; Colocou o país em um novo patamar no mundo; Recebe prêmios e admiração por todo o planeta como um dos maiores estadistas de nosso tempo; Considerado pela Times um dos líderes mais influentes do mundo; Louvado de Barak Obama a Nelson Mandela, de Sophia Loren a Oscar Niemeyer, de Chico Buarque a Sean Penn... Aqui, tratado por uma imprensa golpista com desrespeito dia após dia, ano após ano, sem sequer UMA ÚNICA PROVA que abale sua história ser apresentada.
Objetivo: Ganhar no tapetão o que não ganham no voto! Inviabilizar Lula por alguma outra teoria de "domínio do fato". Preparar o terreno para o Golpe, tal como fizeram em outros momentos da nossa história: apoiaram a Ditadura; Esconderam o movimento das "Diretas Já" até onde deu; Armaram o debate Collor x Lula; Transformaram uma bolinha de papel em traumatismo craniano; Tudo aqui, acontecendo de novo... A tática é evitar que ele (ou um de seus "postes") seja eleito mais uma vez; Impedir novas derrota com jogo sujo; Usar a exaustão a teoria do "ele sabia"; Dar voz e razão a qualquer bandido desde que seja contra Lula, afinal a voz de um bandido tentando amenizar sua pena (e sem apresentar NENHUMA PROVA) vale muito... Imprensa suja, jornalismo baixo, em trabalho de oposição, de Golpe, de Casa Grande.

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Que coisa bela...

Graças a nova Ley dos medios (Lei das Comunicaçãos) na Argentina, entrou no ar na sexta passada o Canal Mapuche, destinado a dar voz aos povos originários daquele país. Democratização do espaço PÚBLICO da mídia. Aqui alguns chamaram romper o monopólio deslavado do Clarín de "Atentado a Liberdade de Imprensa". Me alegro por ti, Argentina!

Foto: http://comunicacionpopular.com.ar/7d-los-pueblos-originarios-tendran-su-primer-canal-de-tv/

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Da série "por favor, cheque antes de postar" ou "os mortos merecem o descanso devido" ou “assim caminha a humanidade” ou "me empresta tua cabeça?" ou “#lávembobagemdenovo”


Não tenho uma análise crítica plenamente desenvolvida. Isso dá muito trabalho e força demais meus neurônios desgastados pelos meus livros de auto ajuda. Esses, aliás, nem leio por completo, pois logo começa a novela. Tiro uma ou duas frases e posto no Face. Quem sabe recebo alguns "curtis" e louvam minha profundidade de reflexão sobre a vida? Já estou ansioso... Nenhum ainda?!!. Desse modo, prefiro pensar a partir de posts. Coisa moderna, rápida, limpinha. Coloco na boca de Niemeyer, de Clarice Lispector, Nietzsche ou de Chico Buarque frases tão deselegantes ou estúpidas que fariam corar seus descendentes por algumas gerações. Outro dia um chato disse que eu “me equivoquei” só porque eu postei uma frase de Sartre e a atribui a Latino... Eu nem sequer sei muito bem quem são essas pessoas, mas escuto falar. Mas sei que são inteligentes e isso dá um ibope danado! Às vezes até paro uns 2 microsegundos para pensar: se eram tão inteligentes será que disseram isso mesmo?! Ah, sei lá... Vou postar, pois bate direitinho com minha opinião e, melhor, para os incautos, a valida!! Afinal, qualquer reclamação, eu direi uma coisa que ouvi na TV: Liberdade de Expressão (Preciso ver depois no Google o que é e como se usa...). O importante é postar! Postar é minha religião! Sou cibernético, internético (às vezes, maquiavélico), mas não sou egoísta em relação ao grande pensamento universal: eu compartilho!!

Para os que entendem, um reforço

O protofascismo germina a partir da frustração social ou individual. É por isso que um dos traços mais típicos dos fascismos históricos foi o apelo a uma classe média frustrada, sofrendo sob alguma crise econômica ou humilhação política, assustada com a pressão dos grupos sociais inferiores.  (Umberto Eco)


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Belicismo

Esse "Senhor da Guerra" está determinado a sempre aumentar a escalada de agressão e usurpação ao Direito a um Estado Palestino. Decide sonegar 100 milhões de dólares dos próprios impostos palestinos e construir mais 3000 unidades habitacionais israelenses em áreas de conflito. Isso apenas porque a ONU decide "sugerir" esse direito ao povo Palestino. Se a História, como ensina Hegel, é uma espiral, senhores como esse fazem Israel (e o mundo) não progredirem para um estado superior, mais racional, de Humanidade. Lamentável, além de anacrônico.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Traição do PT (Mino Carta)

Um veículo de comunicação, apesar de apoiar declaradamente um ex-presidente e uma Presidenta, não deve temer fazer as críticas precisas e necessárias, com honestidade intelectual e ética. Quem dera todos fossem assim. Por isso, segue o texto do Editor Chefe da Carta Capital.

Dizia um velho e caro amigo que a corrupção é igual à graxa das engrenagens: nas doses medidas põe o engenho a funcionar, quando é demais o emperra de vez. Falava com algum cinismo e muita ironia. Está claro que a corrupção é inaceitável in limine, mas, em matéria, no Brasil passamos da conta.
Permito-me outra comparação. A corrupção à brasileira é como o solo de Roma: basta cavar um pouco e descobrimos ruínas. No caso de Roma, antigos, gloriosos testemunhos de uma grande civilização. Infelizmente, o terreno da política nativa esconde outro gênero de ruínas, mostra as entranhas de uma forma de patrimonialismo elevado à enésima potência.
A deliberada confusão entre público e privado vem de longe na terra da casa-grande e da senzala e é doloroso verificar que, se o País cresce, o equívoco fatal se acentua. A corrupção cresce com ele. Mais doloroso ainda é que as provas da contaminação até os escalões inferiores da administração governamental confirmem o triste destino do PT. No poder, porta-se como os demais, nos quais a mazela é implacável tradição.
Assisti ao nascimento do Partido dos Trabalhadores ainda à sombra da ditadura. Vinha de uma ideia de Luiz Inácio da Silva, dito Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo até ser alvejado por uma chamada lei de segurança nacional. A segurança da casa-grande, obviamente.
Era o PT uma agremiação de nítida ideo­logia esquerdista. O tempo sugeriu retoques à plataforma inicial e a perspectiva do poder, enfim ao alcance, propôs cautelas e resguardos plausíveis. Mantinha-se, porém, a lisura dos comportamentos, a limpidez das ações. E isso tudo configurava um partido autêntico, ao contrário dos nossos habituais clubes recreativos.
O PT atual perdeu a linha, no sentido mais amplo. Demoliu seu passado honrado. Abandonou-se ao vírus da corrupção, agora a corroê-lo como se dá, desde sempre com absoluta naturalidade, com aqueles que partidos nunca foram. Seu maior líder, ao se tornar simplesmente Lula, fez um bom governo, e com justiça ganhou a condição de presidente mais popular da história do Brasil. Dilma segue-lhe os passos, com personalidade e firmeza. CartaCapital apoia a presidenta, bem como apoiou Lula. Entende, no entanto, que uma intervenção profunda e enérgica se faça necessária PT adentro.
Tempo perdido deitar esperança em relação a alguma mudança positiva em relação ao principal aliado da base governista, o PMDB de Michel Temer e José Sarney. E mesmo ao PDT de Miro Teixeira, o homem da Globo, a qual sempre há de ter um representante no governo, ou nas cercanias. Quanto ao PT, seria preciso recuperar a fé e os ideais perdidos.
Cabe dizer aqui que nunca me filiei ao PT como, de resto, a partido algum. Outro excelente amigo me define como anarcossocialista. De minha parte, considero-me combatente da igualdade, influenciado pelas lições de Antonio Gramsci, donde “meu ceticismo na inteligência e meu otimismo na ação”. Na minha visão, um partido de esquerda adequado ao presente, nosso e do mundo, seria de infinda serventia para este País, e não ouso afirmar social-democrático para que não pensem tucano.
O PT não é o que prometia ser. Foi envolvido antes por oportunistas audaciosos, depois por incompetentes covardes. Neste exato instante a exibição de velhacaria proporcionada pelo relator da CPI do Cachoeira, o deputado petista Odair Cunha, é algo magistral no seu gênero. Leiam nesta edição como se deu que ele entregasse a alma ao demônio da pusilanimidade. Ou ele não acredita mesmo no que faz, ou deveria fazer?
Há heróis indiscutíveis na trajetória da esquerda brasileira, poucos, a bem da sacrossanta verdade factual. No mais, há inúmeros fanfarrões exibicionistas, arrivistas hipócritas e radical-chiques enfatuados. Nem todos pareceram assim de saída, alguns enganaram crédulos e nem tanto. Na hora azada, mostraram a que vieram. E se prestaram a figurar no deprimente espetáculo que o PT proporciona hoje, igualado aos herdeiros traidores do partido do doutor Ulysses, ou do partido do engenheiro Leonel Brizola, ­obrigados, certamente, a não descansar em paz.
Seria preciso pôr ordem nesta orgia, como recomendaria o Marquês de Sade, sem descurar do fato que algo de sadomasoquista vibra no espetáculo. Não basta mandar para casa este ou aquele funcionário subalterno. Outros hão de ser o rigor, a determinação, a severidade. Para deixar, inclusive, de oferecer de graça munição tão preciosa aos predadores da casa-grande. (Negrito meu).


Intolerância

O Risco de ser Ateu no Islã, segundo a The Economist:
Irã, Arábia saudita, Mauritânia e Sudão tem pena de morte para ateus. Em geral não cumpridas, pois os ateus são "apenas" processados por blasfêmia e incitação ao ódio ou sofrem espancamentos ou decapitações por grupos de "vigilantes" da religião. Na Jordânia e no Egito, 85% dos muçulmanos apóiam a pena de morte para os apóstatas.

Execução do Inca Atahualpa pelos espanhóis (A.B. Greene, 1891) 


A Bala de Prata para Luiz Inácio






Desde 1989, quando uma montagem vergonhosa de um debate pela Rede Globo conduziu Collor à vitória, nem sequer uma única semana de trégua foi dada ao derrotado daquelas primeiras eleições democráticas após a Ditadura Militar. Nem sequer uma única prova material apresentada que desabone sua história. Nem de longe seu partido é feito apenas de pessoas honestas e sérias. Nenhum é. Chegou ao poder e cometeu erros que sempre criticavam em outros partidos. As críticas são merecidas e bem vindas, quando honestamente formuladas. Os culpados, quando provado em juízo, merecem as penas cabíveis, sejam de que partido forem. Por outro lado, a análise correta nos impõe rechaçar a temerária injustiça com os que não cometeram crimes e têm sua honra arrasada ante os irresponsáveis refletores de uma mídia que condena antes de qualquer julgamento. Para o ex-operário que se tornou o maior líder político do país e, portanto, alvo a ser derrubado, são recorrentes e extremamente parciais os tratamentos dados pela chamada grande mídia, quando comparado com seu antecessor.
O migrante nordestino, que nem sequer fala inglês, torceu os narizes preconceituosos e se tornou o presidente de maior aprovação popular da história do Brasil. Elegeu sua sucessora quando todos a chamavam de poste. Traumatismo craniano por bolinha de papel, para ficar apenas em um exemplo, tentou impedir-lhe a vitória. Ao contrário de 89, dessa vez a manipulação não teve o mesmo sucesso. Bons ventos! Suspeito que, ao fim do seu mandato, a Presidenta terá ainda maior popularidade que seu mentor. A Casa Grande, e o partido da imprensa golpista (PIG) que sempre a apoiou (na ausência de uma oposição que desempenhe competentemente o seu papel democrático), nunca perdoará tamanhas e repetidas insolências. Os mais assanhados e descarados querem fazer acreditar que, antes dessa quadrilha por ele chefiada, não existia a corrupção no país. Urgem decretar que um julgamento do STF refundaria a República do Brasil em novas bases. Sim, pois o tal partido inventou a corrupção na história do país. Outros, seja pelo velho e bom preconceito, inocência ou pura desonestidade intelectual, fazem coro à tática usada desde a propaganda stalinista ou nazifascista: uma mentira repetida inúmeras vezes talvez se torne uma verdade... Nas últimas eleições, decretaram o seu fim político (mas mais uma vez esqueceram-se de combinar com o povo) e ficam estarrecidos que tenha elegido o prefeito da maior cidade do país e que seu partido tenha crescido ainda mais.
A esse ex-operário, exigem-lhe o que de ninguém mais se exige ou se exigiu: que seja onisciente e que seus comandados, todos eles, sejam imaculados. Exigem-lhe que saiba o que se passava em cada email, em cada conversa paralela, como se governasse uma casa de dois quartos e não um dos maiores e mais importantes países do mundo. Como se, sobre todo e qualquer presidente, não pairasse a sombra dos que tentam traficar influências em benefício próprio ou de terceiros com o uso de seu nome. É um político, como todos, e faz alianças para as quais tem que ceder nesse jogo de interesses inevitável do qual se faz a política. Nada mais, nada menos que qualquer outro mandatário. Apenas esse, como sempre, deveria saber de tudo e ser culpado de tudo. Depois gritam aos ventos: ele sabia e não fez nada. Ou, soa-lhes melhor: ele estava diretamente envolvido, mesmo que, volto a dizer, nem sequer uma única prova seja apresentada. Ao outro presidente, semelhantes questionamentos jamais foram feitos. Pelo menos não pela mesma mídia tão zelosa do interesse público. Exigem-lhe, esses 7% que acham que seu governo foi ruim ou péssimo e a imprensa dos Civitas e dos Marinhos que lhes acalentam os sonhos, que seu partido seja feito de santos e não de homens, com suas virtudes, mas também com seus vícios e suas fraquezas, como todos os homens de todos os partidos. O seu, não. Não adianta que ele ou sua sucessora exonerem àqueles que têm fortes indícios de praticaram o mau serviço público, serão sempre culpados pela conduta de cada um deles, e, com eles, formavam uma “quadrilha” como nunca antes na história desse país. Não lhe dão igualdade de julgamento ou de pré-julgamento, como fizeram com o outro presidente que tinha o cheiro da Casa Grande. O benefício da dúvida, ante a inexistência de provas, não lhe é jamais concedida. Há uma mulher envolvida? Não temem o machismo de alardear que era amante, namorada, que sua esposa a detestava, que apenas pelas benesses de um amante as mulheres podem alçar seus voos, seja de dignidade ou de corrupção. Ao seu antecessor, o que fala várias línguas, dá-se o direito de ter filho fora do casamento e nem sequer um comentário da grande imprensa, a não ser que seja para entender-lhe e proteger-lhe a fraqueza humana. Como, aliás, concordo que deva ser: com um ou com outro, vida pública e privada não devem ser confundidas e tratadas com sensacionalismo. Mas, também esse direito básico, a esse lhe é negado. Para aqueles que acham o tratamento diferenciado quando se trata do operário, resta acostumarem-se com sua síndrome de perseguição. Acham o tratamento justo e imparcial, esses 7% de iluminados ante a cegueira dos demais.
O Golpe está em curso. A bala de prata a matar o sapo barbudo, o presidente operário, o que sabia de tudo, o que deveria ter a santidade como qualidade, é desesperadamente buscada, a cada semana, desde os anos 80. Surpreendentemente ainda não a encontraram... Onde estaria? Conseguiram com Lugo, no Paraguai. Será que conseguirão no Brasil? Quando o ex-presidente será mortalmente atingido? E, na sequência, sua sucessora? Quando conseguirão convencer o povo que ele está, mais uma vez, errado nas suas escolhas? Como convencer esses 80% que aprovam seu governo e o de sua sucessora de que estão equivocados? Como convencer esse povinho inculto, que merece os políticos que tem, que viu sua vida melhorar sensivelmente nos últimos dez anos, que deve jogar isso fora? E em troca de quê? Como convencer que a corrupção é privilégio de UM partido? Com as redes sociais, com a informação livre e com a imprensa plural, livre e ética isso pode se tornar cada vez mais difícil. Um novo marco regulatório para as comunicações, que dê igual direito democrático de difusão de ideias para todos os segmentos sociais, e que não restringe essa concessão pública a poucas famílias como ocorre no Brasil, é fundamento básico para que nenhum Golpe, seja de direita ou de esquerda, seja vindo da caserna ou das antenas de TV, volte a acontecer no país. 


Rio

Teu mar que encontra a rocha,
Calor das tuas coxas,
Rio-mulher que me atravessa.

 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Para você, Palestina

Eu sinto o frio me trazer o sussurro escuro da noite. Escuto seus lamentos, vejo sua escuridão. Escuto as lamúrias dos séculos a me pediram refúgio. Escuto as sombras, olho a cara do mundo a respirar sua solidão e insanidade. Aceito, inconformado, sua presença, seu cheiro nauseabundo, seus sons de impermanência eclodindo em minha vista cansada de tantas cores que se pintam de cinza. Tenho as cores do mar e do céu povoado de estrelas. Mas os sons do mundo e dos absurdos trazem-me a escuridão da ignorância. Aceito cada palavra como uma flor negra que se abre ou como um caminho para o infinito absurdamente infindável do amor dos que matam e dos que amam. Aceito as dores como aceito as rosas, mas sinto bem mais seus espinhos do que suas pétalas. Rosas absurdas. Libertam seu odor para o ar sujo da cidade, o ar que comanda as desavenças do meu nariz sujo, da minha vida suja, do meu ouvido sujo, da minha boca suja... Comandam a sujeira da vida nas ruas e das guerras, da guerra suja, imunda, impronunciável desejo de morte ante tanta vida, vida que apenas desabrochou em rosa, sempre tão suja e insana guerra, guerra daqueles que tenho que escutar, cheirar, ouvir, comer, e mesmo amar, pois do mais vil excremento de suas bombas nasce minha humanidade, dela também se faz a minha vida e se faz minha morte. Sou ainda mais humano cada vez que uma bomba mata uma criança palestina.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

sábado, 17 de novembro de 2012

Da Série "I Love Soils"

Estudo recente da Cornell University (New York), com 480 crianças, demonstrou que solo, além de não ser danoso ao sistema digestivo, funciona como um sistema de defesa contra substâncias tóxicas e "vacina" as crianças contra diversos parasitas.

Ciência provando o que muitas comunidades rurais e indígenas já sabem há mais de 2000 anos: que terra é um tratamento para problemas intestinais.

Brinco com solo, desde criança... Hoje apenas mudou o tipo de brincadeira, mas o prazer é (quase) o mesmo.

http://www.islamiclife.com/family/2012/muddy_but_creative_hands.php


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Beija Mãos

Coisa interessante de ser ver: Uma espanha, que até pouco tempo barrava cidadãos brasileiros nos seus aeroportos, beijando a mão do Brasil e pedindo que o nosso país receba seus imigrantes desempregados e faça investimentos na Europa. A Espanha decidiu seguir a tal "austeridade" à moda (e ordem) alemã com seu povo pagando a conta. Agora, tal como Portugal, Grécia, Itália e outros países europeus, a Espanha tenta desesperadamente parar o desastre. O Brasil, um dos países que melhor enfrentou a crise de 2008 ao investir no mercado interno, enquanto seu forte papel em commodities agrícolas continuava ajudando a balança comercial, está em bem melhor situação. Lições.


O PT e o “mensalão” (Luiz Gonzaga Belluzzo)

No interminável julgamento do “mensalão”, as cartas dos leitores e os blogs vociferavam: a reputação dos ministros do Supremo está em jogo. Minha inteligência se esbate em suas limitações para compreender o que pretendiam dizer tais sábios da jurisprudência. Imagino que suas elucubrações buscassem definir o resultado do julgamento à revelia do contraditório e do excurso argumentativo.
Isso permite concluir que, nos julgamentos de grande repercussão na opinião pública, devemos nos livrar das conquistas históricas do liberalismo político e da democracia que garantem ao cidadão, rico ou pobre, o julgamento fundado na argumentação racional das partes e na livre formação da convicção do juiz ao aplicar a lei ao fato.
É de uma obviedade palmar que os crimes alegados pela acusação, uma vez provados, devem ser duramente punidos, sobretudo por desmoralizarem os requerimentos de probidade que devem guiar a administração pública. Mais que isso, deformam a representação popular. No banco dos réus do “mensalão” e do “mensalinho” deveriam estar sentados o sistema partidário e o financiamento das campanhas eleitorais, engendrados com o propósito de transformar a política num mercado de balcão, onde os gritos de “compro” e “vendo” tornam ridícula a hipocrisia dos discursos moralistas.
O desempenho nas eleições, o sucesso das políticas sociais e o reconhecimento popular não absolvem o Partido dos Trabalhadores dos pecados da Realpolitik e dos empréstimos contraídos em bancos de espertezas e hipocrisias do establishment nativo. Não há outro caminho senão purgar as culpas e retomar a luta pelo avanço da igualdade e da democracia dos cidadãos, o que inclui a defesa da diversidade de pontos de vista e dos meios para expressá-los.
Na sociedade dos significados invertidos e pervertidos cabe às associações de cidadãos lutarem pela fiscalização infatigável dos poderes públicos e privados, sobretudo daqueles que pretendem se embuçar com as máscaras de senhores da liberdade. Imagino que assim podemos vislumbrar a derrota do transformismo que dá sobrevida ao pacto oligárquico que assola o País. Os senhores abandonaram os coturnos e as baionetas para recorrer aos métodos sutis e eficientes de tortura coletiva dos cidadãos com as técnicas da desinformação, do massacre ideológico e da “espetacularização” da política.
Hannah Arendt, nas Origens do Totalitarismo, abordou as metamorfoses sociais e políticas na era do capitalismo tardio e da sociedade de massa. As transformações das sociedades ao longo do século XX produziram, em simultâneo, o declínio do homem público e a ascensão do “homem massa, cuja principal característica não é a brutalidade nem a rudeza, mas o seu isolamento e sua falta de relações sociais normais”.
Trata-se da abolição do sentimento de pertinência a uma classe social sem a supressão das relações de dominação. “As massas surgiram dos fragmentos da sociedade atomizada, cuja estrutura competitiva e concomitante solidão do indivíduo eram controladas quando se pertencia a uma classe.” Em seus piores momentos, os porta-vozes do indivíduo abandonado às penúrias da multidão solitária se entregam às tropelias do que Antonio Gramsci chamou de sarcasmo de “direita”. Sempre negativo, esse sarcasmo é cético e destruidor não só da forma, mas do conteúdo humano dos sentimentos e crenças na justiça, na igualdade e na fraternidade, elementos ideológicos difundidos pelas tendências democráticas herdadas da Revolução Francesa (Antonio Gramsci, em Maquiavel, a Política e o Estado Moderno).
Invocar a justiça acima da lei é atitude típica do “homem cordial”, figura magnífica da sociologia de Sérgio Buarque de Holanda. Ao contrário do que pretendem as interpretações vulgares, o homem cordial de Sérgio Buarque não é o homem liberal da Teoria dos Sentimentos Morais, de Adam Smith, cuja “mente estava dotada naturalmente da faculdade que permitia distinguir, em certas ações e afeições, as qualidades do certo, do louvável e do virtuoso, e, em outras, aquelas do errado, do condenável e do vicioso”.
O homem cordial é avesso à impessoalidade da norma e está permanentemente empenhado em impor suas “virtudes” e sua “moral” particularista aos demais. Trata-se da caracterização mais perfeita do “coronel”, personagem das oligarquias que infestaram e ainda infestam o País com seus diktats. Outrora concentrados nos grotões do Brasil varonil, hoje se refugiam nas redações ou espalham seus mandonismos e grosserias pela web.

domingo, 4 de novembro de 2012

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Outubros


Lá se vai Outubro (mês tão querido), carregando ainda flores da primavera. Chama por Novembro, esse mês que se avizinha pelas beiradas, comendo o ano quietinho, esse mês prenúncio de fim. Era o mês nono, para os romanos. Para nós é mês décimo primeiro, sem rima que caiba em tamanho desatino de passar o tempo tão rápido. Rápido demais que a gente quase não se dá conta. Daqui pouquinho ele puxa pela perna a dúzia contadinha de Dezembro. Aí tem jeito não. O ano se acaba todo, com aqueles fogos mentindo pra gente que o tempo existe. A gente chega a acreditar que nossa vida tá passando medidinha como passam os dias. Acha que ela tá passando rapididinha como os dias desses meses todos, de Janeiro ao 31 da última noite da vida. Fogos se unindo de uma canto a outro dos meses vindos e findos. É melhor desacreditar desse tempo do calendário, da folhinha rasgada, ditadora máxima da contagem dos dias que esquece do incontável. Às vezes penso que nossa vida passa na medida da vida vivida, sem relógios ou agendas que a peguem pelo pescoço. É como se uns estivessem em Fevereiro, Março, ainda, brincando com troças pelas ruas. Outros, seja na alma ou na pele enrrugada, trazem um Dezembro estampado feito quem tá sempre esperando o fim, seja da alegria ou da vida. E isso não tem idade, não. Tem dias que parecem enormes bolos de chocolate de comer de boca cheia, caindo farelo pelos cantos. Meses gordinhos que só... Mas tem dias que dá uma tristeza... Às vezes pequena, como aquela do sorvete caído logo na primeira lambida. Às vezes grande em demasiado, como os olhos que não te tem mais querer ou a castigueza que é a morte de pessoa amada. Outros dias são como Novembro, passam assim sem mais nem menos, sem nos dar ou tirar nada de especial, como se nos olhasse na cara a cobrar alguma atitude para vidinha tão por demais besta... Tem dias assim, novembrais, apenas passando e anunciando o outro dia que esperamos mais, com mais alegria. Só sei que Outubro, meu mês mais querido, se vai e já olho de cá meio triste com a despedida. Mas ainda tem cheiro de flores nas mãos. Parece que Novembro as aceitará. Tomara.

Parabéns, Carlos!



Mão Dadas (CDA)

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Purificar o Subaé

No Centro de Tecnologia Mineral - CETEM (RJ) discutindo tecnologias para recuperação ambiental da cidade com a maior contaminação humana por chumbo no planeta (Santo Amaro da Purificação - BA). Grupo de agrônomos, geólogos, biólogos, economistas, médicos, com apoio do Prefeito Ricardo Machado (PT), dos senadores Paulo Paim (PT-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA), e da Presidenta Dilma, para apresentar soluções para um problema que se arrasta por 50 anos e que foi causado por uma multinacional europeia. Um grande desafio científico, tecnológico, de saúde pública e sócio-econômico.

Dona Canô (mãe de Caetano e Bethânia e ilustre moradora de Santo Amaro) é uma das grandes baluartes dessa luta. Seu filho compôs uma canção que alerta para o tema, cuja letra fala "dos riscos dessa gente morena" e pede para "Purificar o Subaé, mandar os malditos embora", aqui cantada pela filha:
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Graciliano 120


 Relançamento da Biografia de Graciliano Ramos (O Velho Graça), de Dênis de Moraes, em comemoração aos 120 de nascimento de um dos nossos maiores escritores.
Comecei o interesse pela leitura quando, entre os livros que meu pai e mãe liam, recolhi "Vidas Secas" e "São Bernardo". Junto com Machado de Assis, Graciliano formou a dupla que nos primeiros anos da adolescência me despertou para a boa literatura.


A Morte de Baleia (Vidas Secas)

"Baleia ficou doente. Seus pêlos caíram, as costelas apareciam na pele rósea, onde manchas escuras convertiam-se em pus e sangravam. As chagas cobriam-lhe a boca de inchaço.
Fabiano resolveu matá-la, Sinhá Vitória achou precipitado, afinal, não estava louca. Fabiano achava que era hidrofobia, por isso não havia escolha.
Os meninos foram levados para dentro. Fabiano chamava a cachorra. Os meninos se desesperaram: vão bulir com a Baleia, não é mãe?!
Fabiano alcançou a cachorra perto do alpendre, estava irritado com a situação. Atirou. A carga atingiu a pata traseira de Baleia. A cachorra saiu de pernas tortas, arrastando-se em três delas para detrás de uma moita de espinhos. Sua consciência sumia-lhe. Era tarde. Precisava descansar.
Com um enorme esforço, tentava vencer o nevoeiro que tomava conta dela. A muito custo abriu os olhos e viu em sua frente Fabiano segurando um objeto ameaçador. Pensou em mordê-lo, mas como podia, depois de ter passado a vida toda na obediência, juntando o gado a um só sinal de seu dono. Ela pertencia a ele. Sabia disso.
Foi então que reparou em todos aqueles bichos soltos. Já era de noite, já era alucinação. Estranhou a ausência dos meninos. Tudo era uma noite de inverno, fria, gelada, nevoenta.
Ela queria dormir ali entre a cozinha e o alpendre, na pedra quente do fogão. Amanhecendo, acordaria feliz, lambendo a mão de um Fabiano enorme, as crianças rolariam com ela em um pátio imenso, o mundo ficaria cheio de preás, gordos, grandes, o nordeste seria um campo verdejante, cheio de árvores e bichos. Tudo seria diferente."

Dênis de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 1954. É doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso), sediado em Buenos Aires. Atualmente, é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Para Trinidad

Cidadezinha assim,
pequenina e devagar,
de cachorros, bicicletas, gente e cores.
Lá ao longe,
onde não se vê daqui,
um mar azul,
como os olhos da mais bela saudade.

Trinidad (Cuba), outubro de 2012.

 

sábado, 6 de outubro de 2012

Não Pense, Veja

Opinião do panfleto conservador Veja (em 2009) sobre Joaquim Barbosa (que na edição dessa semana do panfleto "Mudou o Brasil"). Se alguém aí se lembra, a capa desta revista já inventou outros "heróis" tais como Fernando Collor de Mello ("O caçador de Marajás") e Demóstenes Torres ("O Paladino da Ética"). E muitos foram na onda... Nem de longe quero comparar uns e outros, são casos diferentes, embora atores da mesma novela panfletária da análise superficial e que abusa da ingenuidade dos que esperam ser "salvos" invés de arregaçar as mangas e tentar construir seu próprio país. A linha editorial da Veja é mesmo feita para brincar com a sensatez de qualquer leitor de inteligência mediana, mas eles sempre se superam. Joaquim Barbosa faz apenas seu papel como magistrado e, ao que parece, vota de acordo com suas convicções, tal como o faz o revisor Lewandowski. Nenhum dos dois é herói ou vilão por isso. Podemos discordar ou apoiar as decisões de um ou de outro (isso é de foro ou convicçao íntimos), mas não podemos mais aceitar a ideia de que um país muda a base de super-heróis ou salvadores da pátria, ainda mais quando quem alardea isso um dia chama o herói de vilão e, de acordo com suas conveniências, passa a chamar o vilão de herói. Incoerência tem linha Editorial: Não Pense, Veja.


C'est la Folie



Saiu tonta, a louca,
Sem saber o que fazer com a alegria.
Essa estranha sensação que a acordou naquele dia.
De onde vinha tanta insanidade?
Estava até desconfiada desse seu estado surreal,
Não devia ser normal...
Tentou psicanalista, alergologista e cigana.
Falou com o padre e com a tia aborrecida.
Alguém que lhe emprestasse um pouco de tristeza,
Pois deu agora de ter sonhos felizes e se ria do nada.
Não teve terapia que desse jeito...
A sensaçao de alegria não sumia,
Persistia, irremediável utopia.
Saiu pra rua e pra vida.
Espalhou sorrisos (nem sempre correspondidos).
Beijou o moço da esquina e o menino no sinal.
Soltou beijo pro policial.
Saiu doida, tonta, embriagada.
Fosse o que fosse: que se dane!
Mesmo sem entender tamanha euforia,
Uma coisa tinha decidido:
Iria se acostumar a viver de alegria.