Poucas vezes, diria pouquíssimas,
viu-se o esporte que une essa nação continental ser tão bem representado dentro
e fora dos campos. Um dos idealistas de uma época de magia do futebol que
precisa ser reinventada. Sua magnífica geração, que culminou com o maior time
de futebol já criado (a seleção de 82), foi talvez a mais injustiçada da
história quando fomos desclassificados (o mundo perplexo...) pela Itália. A
derrota serviu de desculpa para a feiura da seleção de 94. Futebol burocrático,
campeão sem encantamento, que alguns chamaram de evolução
tática. Preferia o sonho sonhado por Telê e materializado nos pés de Zico,
Falcão e Sócrates. Outro tempo. E o sonho foi além dos campos. A democracia
corintiana: o futebol pensado muito além dos porões dos cartolas, onde a paixão
vira, somente, negócio e negociata. Utopia e exemplo em um período político
ainda tão obscuro, com tantos ecos recentes do passado de exceção. Coragem. A
centelha de esperança, essa da arte com a bola e da política nas ruas, da transformação
social, punho levantado, após o gol e nas praças, pelas Diretas Já. O calcanhar e a palavra. Armas quentes desse magistral
atleta politicamente engajado. Que as brincadeiras de Neymar, quem dera,
pudessem nos salvar em um mundo no qual Ronaldo e Ricardo Teixeira se abraçam. O
ex-jogador exuberante e o que há de mais feio no esporte, o laranja perfeito
para o simuclaro de uma copa de interesses entre os quais o esporte e seu poder
de conciliação nacional são o menos importante. O futebol como fantasia da recriação
do mundo, do país, da beleza, mais uma vez relegado a segunda plano. Como
poucos, como pouquíssimos, farão ainda mais falta o calcanhar e as opiniões rentes do Dr.
Sócrates.
Realmente, até quem não acompanha futebol, como eu, sente pela partida desse grande cara, que com seu jeitinho meio mal humorado, meio carrancudo, se mostrava absolutamente coerente, e extremamente consciente das ilusões e das limitações dos humanos. Não só militou politicamente, mas serviu de exemplo a muitos corintianinhos (... não só)que se espelharam na visão de mundo do ídolo e que hoje talvez tenham uma postura menos deslumbrada diante dos apelos que nos cercam todos os dias.
ResponderExcluirOi Débora! Isso mesmo...
ResponderExcluirQuanto prazer nos traz uma "bola", ou melhor, o que fantásticos pés conseguem fazer com ela. Saudade daqueles que faziam não apenas vê-la sacudindo a rede, mas sonhavam em conquistas. Esporte é ferramenta para educação, talvez os atuais protagonistas do futebol esqueceram-se disso. Que pena!
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