Bebadosamba (Poema de Paulinho da Viola)
Um mestre do verso de olhar destemido
disse uma vez com certa ironia:
Se lágrima fosse de pedra
eu choraria
E eu, Boca, como sempre perdido,
bêbado de sambas e outros sonhos
choro a lágrima comum
que todos choram
Embora não tenha nessas horas
saudade do passado, remorso
ou mágoas menores,
meu choro Boca,
dolente por questão de estilo
é chula quase raiada,
solo espontâneo e rude
de um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
de meus olhos que quando aflora
serve, antes de tudo,
para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra.