quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Outubros


Lá se vai Outubro (mês tão querido), carregando ainda flores da primavera. Chama por Novembro, esse mês que se avizinha pelas beiradas, comendo o ano quietinho, esse mês prenúncio de fim. Era o mês nono, para os romanos. Para nós é mês décimo primeiro, sem rima que caiba em tamanho desatino de passar o tempo tão rápido. Rápido demais que a gente quase não se dá conta. Daqui pouquinho ele puxa pela perna a dúzia contadinha de Dezembro. Aí tem jeito não. O ano se acaba todo, com aqueles fogos mentindo pra gente que o tempo existe. A gente chega a acreditar que nossa vida tá passando medidinha como passam os dias. Acha que ela tá passando rapididinha como os dias desses meses todos, de Janeiro ao 31 da última noite da vida. Fogos se unindo de uma canto a outro dos meses vindos e findos. É melhor desacreditar desse tempo do calendário, da folhinha rasgada, ditadora máxima da contagem dos dias que esquece do incontável. Às vezes penso que nossa vida passa na medida da vida vivida, sem relógios ou agendas que a peguem pelo pescoço. É como se uns estivessem em Fevereiro, Março, ainda, brincando com troças pelas ruas. Outros, seja na alma ou na pele enrrugada, trazem um Dezembro estampado feito quem tá sempre esperando o fim, seja da alegria ou da vida. E isso não tem idade, não. Tem dias que parecem enormes bolos de chocolate de comer de boca cheia, caindo farelo pelos cantos. Meses gordinhos que só... Mas tem dias que dá uma tristeza... Às vezes pequena, como aquela do sorvete caído logo na primeira lambida. Às vezes grande em demasiado, como os olhos que não te tem mais querer ou a castigueza que é a morte de pessoa amada. Outros dias são como Novembro, passam assim sem mais nem menos, sem nos dar ou tirar nada de especial, como se nos olhasse na cara a cobrar alguma atitude para vidinha tão por demais besta... Tem dias assim, novembrais, apenas passando e anunciando o outro dia que esperamos mais, com mais alegria. Só sei que Outubro, meu mês mais querido, se vai e já olho de cá meio triste com a despedida. Mas ainda tem cheiro de flores nas mãos. Parece que Novembro as aceitará. Tomara.

Parabéns, Carlos!



Mão Dadas (CDA)

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Purificar o Subaé

No Centro de Tecnologia Mineral - CETEM (RJ) discutindo tecnologias para recuperação ambiental da cidade com a maior contaminação humana por chumbo no planeta (Santo Amaro da Purificação - BA). Grupo de agrônomos, geólogos, biólogos, economistas, médicos, com apoio do Prefeito Ricardo Machado (PT), dos senadores Paulo Paim (PT-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA), e da Presidenta Dilma, para apresentar soluções para um problema que se arrasta por 50 anos e que foi causado por uma multinacional europeia. Um grande desafio científico, tecnológico, de saúde pública e sócio-econômico.

Dona Canô (mãe de Caetano e Bethânia e ilustre moradora de Santo Amaro) é uma das grandes baluartes dessa luta. Seu filho compôs uma canção que alerta para o tema, cuja letra fala "dos riscos dessa gente morena" e pede para "Purificar o Subaé, mandar os malditos embora", aqui cantada pela filha:
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Graciliano 120


 Relançamento da Biografia de Graciliano Ramos (O Velho Graça), de Dênis de Moraes, em comemoração aos 120 de nascimento de um dos nossos maiores escritores.
Comecei o interesse pela leitura quando, entre os livros que meu pai e mãe liam, recolhi "Vidas Secas" e "São Bernardo". Junto com Machado de Assis, Graciliano formou a dupla que nos primeiros anos da adolescência me despertou para a boa literatura.


A Morte de Baleia (Vidas Secas)

"Baleia ficou doente. Seus pêlos caíram, as costelas apareciam na pele rósea, onde manchas escuras convertiam-se em pus e sangravam. As chagas cobriam-lhe a boca de inchaço.
Fabiano resolveu matá-la, Sinhá Vitória achou precipitado, afinal, não estava louca. Fabiano achava que era hidrofobia, por isso não havia escolha.
Os meninos foram levados para dentro. Fabiano chamava a cachorra. Os meninos se desesperaram: vão bulir com a Baleia, não é mãe?!
Fabiano alcançou a cachorra perto do alpendre, estava irritado com a situação. Atirou. A carga atingiu a pata traseira de Baleia. A cachorra saiu de pernas tortas, arrastando-se em três delas para detrás de uma moita de espinhos. Sua consciência sumia-lhe. Era tarde. Precisava descansar.
Com um enorme esforço, tentava vencer o nevoeiro que tomava conta dela. A muito custo abriu os olhos e viu em sua frente Fabiano segurando um objeto ameaçador. Pensou em mordê-lo, mas como podia, depois de ter passado a vida toda na obediência, juntando o gado a um só sinal de seu dono. Ela pertencia a ele. Sabia disso.
Foi então que reparou em todos aqueles bichos soltos. Já era de noite, já era alucinação. Estranhou a ausência dos meninos. Tudo era uma noite de inverno, fria, gelada, nevoenta.
Ela queria dormir ali entre a cozinha e o alpendre, na pedra quente do fogão. Amanhecendo, acordaria feliz, lambendo a mão de um Fabiano enorme, as crianças rolariam com ela em um pátio imenso, o mundo ficaria cheio de preás, gordos, grandes, o nordeste seria um campo verdejante, cheio de árvores e bichos. Tudo seria diferente."

Dênis de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 1954. É doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso), sediado em Buenos Aires. Atualmente, é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Para Trinidad

Cidadezinha assim,
pequenina e devagar,
de cachorros, bicicletas, gente e cores.
Lá ao longe,
onde não se vê daqui,
um mar azul,
como os olhos da mais bela saudade.

Trinidad (Cuba), outubro de 2012.

 

sábado, 6 de outubro de 2012

Não Pense, Veja

Opinião do panfleto conservador Veja (em 2009) sobre Joaquim Barbosa (que na edição dessa semana do panfleto "Mudou o Brasil"). Se alguém aí se lembra, a capa desta revista já inventou outros "heróis" tais como Fernando Collor de Mello ("O caçador de Marajás") e Demóstenes Torres ("O Paladino da Ética"). E muitos foram na onda... Nem de longe quero comparar uns e outros, são casos diferentes, embora atores da mesma novela panfletária da análise superficial e que abusa da ingenuidade dos que esperam ser "salvos" invés de arregaçar as mangas e tentar construir seu próprio país. A linha editorial da Veja é mesmo feita para brincar com a sensatez de qualquer leitor de inteligência mediana, mas eles sempre se superam. Joaquim Barbosa faz apenas seu papel como magistrado e, ao que parece, vota de acordo com suas convicções, tal como o faz o revisor Lewandowski. Nenhum dos dois é herói ou vilão por isso. Podemos discordar ou apoiar as decisões de um ou de outro (isso é de foro ou convicçao íntimos), mas não podemos mais aceitar a ideia de que um país muda a base de super-heróis ou salvadores da pátria, ainda mais quando quem alardea isso um dia chama o herói de vilão e, de acordo com suas conveniências, passa a chamar o vilão de herói. Incoerência tem linha Editorial: Não Pense, Veja.


C'est la Folie



Saiu tonta, a louca,
Sem saber o que fazer com a alegria.
Essa estranha sensação que a acordou naquele dia.
De onde vinha tanta insanidade?
Estava até desconfiada desse seu estado surreal,
Não devia ser normal...
Tentou psicanalista, alergologista e cigana.
Falou com o padre e com a tia aborrecida.
Alguém que lhe emprestasse um pouco de tristeza,
Pois deu agora de ter sonhos felizes e se ria do nada.
Não teve terapia que desse jeito...
A sensaçao de alegria não sumia,
Persistia, irremediável utopia.
Saiu pra rua e pra vida.
Espalhou sorrisos (nem sempre correspondidos).
Beijou o moço da esquina e o menino no sinal.
Soltou beijo pro policial.
Saiu doida, tonta, embriagada.
Fosse o que fosse: que se dane!
Mesmo sem entender tamanha euforia,
Uma coisa tinha decidido:
Iria se acostumar a viver de alegria.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

B.B. King and Me

Da série "coisas a fazer antes da morte":
Ter um Rei tocando na noite que abre o dia dos seus 42 anos... E no outono dos muitos anos (87) dessa lenda do Blues.

Foto de celular e som de deuses do Blues (Curitiba, 02/10/2012)