Lá se vai Outubro (mês tão querido),
carregando ainda flores da primavera. Chama por Novembro, esse mês que
se avizinha pelas beiradas, comendo o ano quietinho, esse mês prenúncio
de fim. Era o mês nono, para os romanos.
Para nós é mês décimo primeiro, sem rima que caiba em tamanho desatino
de passar o tempo tão rápido. Rápido demais que a gente quase não se dá
conta. Daqui pouquinho ele puxa pela perna a dúzia contadinha de
Dezembro. Aí tem jeito não. O ano se acaba todo, com aqueles fogos
mentindo pra gente que o tempo existe. A gente chega a acreditar que
nossa vida tá passando medidinha como passam os dias. Acha que ela tá
passando rapididinha como os dias desses meses todos, de Janeiro ao 31
da última noite da vida. Fogos se unindo de uma canto a outro dos meses
vindos e findos. É melhor desacreditar desse tempo do calendário, da
folhinha rasgada, ditadora máxima da contagem dos dias que esquece do
incontável. Às vezes penso que nossa vida passa na medida da vida
vivida, sem relógios ou agendas que a peguem pelo pescoço. É como se uns
estivessem em Fevereiro, Março, ainda, brincando com troças pelas ruas.
Outros, seja na alma ou na pele enrrugada, trazem um Dezembro estampado
feito quem tá sempre esperando o fim, seja da alegria ou da vida. E
isso não tem idade, não. Tem dias que parecem enormes bolos de chocolate
de comer de boca cheia, caindo farelo pelos cantos. Meses gordinhos que
só... Mas tem dias que dá uma tristeza... Às vezes pequena, como aquela
do sorvete caído logo na primeira lambida. Às vezes grande em
demasiado, como os olhos que não te tem mais querer ou a castigueza que é
a morte de pessoa amada. Outros dias são como Novembro, passam assim
sem mais nem menos, sem nos dar ou tirar nada de especial, como se nos
olhasse na cara a cobrar alguma atitude para vidinha tão por demais
besta... Tem dias assim, novembrais, apenas passando e anunciando o
outro dia que esperamos mais, com mais alegria. Só sei que Outubro, meu
mês mais querido, se vai e já olho de cá meio triste com a despedida.
Mas ainda tem cheiro de flores nas mãos. Parece que Novembro as
aceitará. Tomara.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Parabéns, Carlos!
Mão Dadas (CDA)
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Purificar o Subaé
No Centro de Tecnologia Mineral - CETEM (RJ) discutindo tecnologias para
recuperação ambiental da cidade com a maior contaminação humana por
chumbo no planeta (Santo Amaro da Purificação - BA). Grupo de agrônomos,
geólogos, biólogos, economistas, médicos, com apoio do Prefeito
Ricardo Machado (PT), dos senadores Paulo Paim (PT-RS) e Walter
Pinheiro (PT-BA), e da Presidenta Dilma, para apresentar soluções para
um problema que se arrasta por 50 anos e que foi causado por uma
multinacional europeia. Um grande desafio científico, tecnológico, de
saúde pública e sócio-econômico.
Dona Canô (mãe de Caetano e Bethânia e ilustre moradora de Santo Amaro) é uma das grandes baluartes dessa luta. Seu filho compôs uma canção que alerta para o tema, cuja letra fala "dos riscos dessa gente morena" e pede para "Purificar o Subaé, mandar os malditos embora", aqui cantada pela filha:
Dona Canô (mãe de Caetano e Bethânia e ilustre moradora de Santo Amaro) é uma das grandes baluartes dessa luta. Seu filho compôs uma canção que alerta para o tema, cuja letra fala "dos riscos dessa gente morena" e pede para "Purificar o Subaé, mandar os malditos embora", aqui cantada pela filha:
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Graciliano 120
Relançamento da Biografia de Graciliano Ramos (O Velho Graça), de Dênis de Moraes, em comemoração aos 120 de nascimento de um dos nossos maiores escritores.
Comecei o interesse pela leitura quando, entre os livros que meu pai e mãe liam, recolhi "Vidas Secas" e "São Bernardo". Junto com Machado de Assis, Graciliano formou a dupla que nos primeiros anos da adolescência me despertou para a boa literatura.
A Morte de Baleia (Vidas Secas)
"Baleia ficou doente. Seus pêlos caíram, as costelas apareciam na pele rósea, onde manchas escuras convertiam-se em pus e sangravam. As chagas cobriam-lhe a boca de inchaço.
Fabiano resolveu matá-la, Sinhá Vitória achou precipitado, afinal, não estava louca. Fabiano achava que era hidrofobia, por isso não havia escolha.
Os meninos foram levados para dentro. Fabiano chamava a cachorra. Os meninos se desesperaram: vão bulir com a Baleia, não é mãe?!
Fabiano alcançou a cachorra perto do alpendre, estava irritado com a situação. Atirou. A carga atingiu a pata traseira de Baleia. A cachorra saiu de pernas tortas, arrastando-se em três delas para detrás de uma moita de espinhos. Sua consciência sumia-lhe. Era tarde. Precisava descansar.
Com um enorme esforço, tentava vencer o nevoeiro que tomava conta dela. A muito custo abriu os olhos e viu em sua frente Fabiano segurando um objeto ameaçador. Pensou em mordê-lo, mas como podia, depois de ter passado a vida toda na obediência, juntando o gado a um só sinal de seu dono. Ela pertencia a ele. Sabia disso.
Foi então que reparou em todos aqueles bichos soltos. Já era de noite, já era alucinação. Estranhou a ausência dos meninos. Tudo era uma noite de inverno, fria, gelada, nevoenta.
Ela queria dormir ali entre a cozinha e o alpendre, na pedra quente do fogão. Amanhecendo, acordaria feliz, lambendo a mão de um Fabiano enorme, as crianças rolariam com ela em um pátio imenso, o mundo ficaria cheio de preás, gordos, grandes, o nordeste seria um campo verdejante, cheio de árvores e bichos. Tudo seria diferente."
Dênis de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 1954. É doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (Clacso), sediado em Buenos Aires. Atualmente, é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Para Trinidad
sábado, 6 de outubro de 2012
Não Pense, Veja
Opinião do panfleto conservador Veja (em 2009)
sobre Joaquim Barbosa (que na edição dessa semana do panfleto "Mudou o
Brasil"). Se alguém aí se lembra, a capa desta revista já inventou
outros "heróis" tais como Fernando Collor de Mello ("O caçador
de Marajás") e Demóstenes Torres ("O Paladino da Ética"). E muitos
foram na onda... Nem de longe quero comparar uns e outros, são casos
diferentes, embora atores da mesma novela panfletária da análise
superficial e que abusa da ingenuidade dos que esperam ser "salvos"
invés de arregaçar as mangas e tentar construir seu próprio país. A
linha editorial da Veja é mesmo feita para brincar com a sensatez de
qualquer leitor de inteligência mediana, mas eles sempre se superam.
Joaquim Barbosa faz apenas seu papel como magistrado e, ao que parece,
vota de acordo com suas convicções, tal como o faz o revisor
Lewandowski. Nenhum dos dois é herói ou vilão por isso. Podemos
discordar ou apoiar as decisões de um ou de outro (isso é de foro ou
convicçao íntimos), mas não podemos mais aceitar a ideia de que um país
muda a base de super-heróis ou salvadores da pátria, ainda mais quando
quem alardea isso um dia chama o herói de vilão e, de acordo com suas
conveniências, passa a chamar o vilão de herói. Incoerência tem linha
Editorial: Não Pense, Veja.
C'est la Folie
Saiu tonta, a louca,
Sem saber o que fazer com a alegria.
Essa estranha sensação que a acordou naquele dia.
De onde vinha tanta insanidade?
Sem saber o que fazer com a alegria.
Essa estranha sensação que a acordou naquele dia.
De onde vinha tanta insanidade?
Estava até desconfiada desse seu estado surreal,
Não devia ser normal...
Tentou psicanalista, alergologista e cigana.
Falou com o padre e com a tia aborrecida.
Alguém que lhe emprestasse um pouco de tristeza,
Pois deu agora de ter sonhos felizes e se ria do nada.
Não teve terapia que desse jeito...
A sensaçao de alegria não sumia,
Persistia, irremediável utopia.
Saiu pra rua e pra vida.
Espalhou sorrisos (nem sempre correspondidos).
Beijou o moço da esquina e o menino no sinal.
Soltou beijo pro policial.
Saiu doida, tonta, embriagada.
Fosse o que fosse: que se dane!
Mesmo sem entender tamanha euforia,
Uma coisa tinha decidido:
Iria se acostumar a viver de alegria.
Falou com o padre e com a tia aborrecida.
Alguém que lhe emprestasse um pouco de tristeza,
Pois deu agora de ter sonhos felizes e se ria do nada.
Não teve terapia que desse jeito...
A sensaçao de alegria não sumia,
Persistia, irremediável utopia.
Saiu pra rua e pra vida.
Espalhou sorrisos (nem sempre correspondidos).
Beijou o moço da esquina e o menino no sinal.
Soltou beijo pro policial.
Saiu doida, tonta, embriagada.
Fosse o que fosse: que se dane!
Mesmo sem entender tamanha euforia,
Uma coisa tinha decidido:
Iria se acostumar a viver de alegria.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
B.B. King and Me
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