domingo, 2 de setembro de 2012

O estudante de agronomia que adocicou dona Rozilda



Vadinho teria finalmente o acesso à Flor graças, quem diria meus caros(as) alunos(as), a Mirandão, um mulato  malandro e estudante crônico ("perseverante", corrigia ele) de agronomia,  que se  fazia  passar por Engenheiro Agrônomo ou até mesmo Livre Docente da Escola de Agronomia, para convencer dona Rozilda, mãe megera da beldade aquitutada, de que Vadinho era homem digníssimo, da mais alta estirpe da sociedade baiana, representante do Governador, inclusive. Com o caminho aberto, Jorge Amado descreve sensual e magnificamente (como sempre), a cena do início de namoro na escada, e nos deixa, aqui nesse manhã de domingo, a lembrar das escadas onde ancoramos nossas paixões juvenis, adultas e, oxalá, outonais:

"Tocava dona Rozilda os cimos do poder, sentia o gosto sem igual da fama; Vadinho tocava os seios rijos de Flor no escuro da escada, sentia o gosto sem igual da boca sedenta e medrosa da moça, mordia-lhe os lábios. Revelava-lhe um mundo apenas suspeitado de prazeres proibidos, ganhando a cada noite de namoro uma parcela de sua resistência e de seu corpo, de pudor, da sua oculta emoção. O desejo a consumia numa fogueira de altas labaredas, ardiam brasas em seu ventre mas Flor buscava conter-se e coibir-se. Sentindo-se, entretanto, dia a dia, menos dona da sua vontade, de recusa frágil, de relutância débil, submissa escrava do rapaz audacioso, que já se apoderara de quase todo o seu corpo queimado de uma febre sem remédio, ai, sem remédio"

Jorge Amado (Dona Flor e seus Dois Maridos, p. 79, edição da Editora Record) 

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