Eu sou o produto do que em mim mais se
multiplica, se soma e, sobretudo, se divide. Sou metade o que podia
ser, a soma de todos os meus quereres, multiplicada pelos desejos que
ficaram na estrada comendo poeira. Sou
uma unidade dividida, entre o momento da risada e o aquietar calado da
melancolia. Sou punhal cravado nas costas e o sangue banhando a roseira.
Vou me multiplicando sem fim, em cada encontro que tenho: como gente,
como mato, como cimento e como asfalto. Tenho cheiro de mofo, uma cara
quase de moço, que morre cada dia um pouco pra nascer do ovo. Somando-se
ao mundo todo vou assim me dividindo, encontrando em cada porto o amor
prometido.
A Odalisca (Matisse) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário