quarta-feira, 5 de junho de 2013

Eu-Língua


Eu falo todo dia. A língua graciosamente me faz eu. Ela está dentro e está fora. A língua portuguesa do Brasil me engole. Lambo a gramática e o falar do povo. A língua do Brasil me invade. Tudo normatizado ou belamente inculto, a língua brasileira assombrosamente me invade. Abrasileirando Portugal, me recuso à norma lusa. Tudo vira Brasil, esse falar moreno. A língua que eu falo é a língua que me faz quem sou. Sem ela sou nada. Ela é minha pátria e minha aldeia. A língua do Brasil me serpenteia. Gozo em suas mãos de letras e sílabas, murmuradas no ouvido ou nascida das ruas. Infinitamente brasileira, língua minha, o melhor de mim se desmancha em palavras tuas.

2 comentários:

  1. A língua brasileira é belíssima, apesar de tanta norma e refino gramatical! Temos verdadeiras realezas que descrevem a trajetória dos movimentos que marcam e marcaram os sentimentos salivados diante do pensar, existir, despir, ocultar, explodir... Ela desliza no marco literário brasileiro do EU dos autores para o mundo. Penso que, há quem desemaranham o que falam e, outros, apenas degustam como querem, ou ainda, materializam o aroma da essência sussurrada. Mas desbravar os chicoteios n´alma, sensações, desejos, ilusões e alegrias que inspiram e assoviam as letras, uma por uma, é algo impossível. Nós leitores ficamos apenas admirados com as emoções descritas, as quais foram digeridas pelos autores e, sutilmente, deixam implícitas ou não. Gostei do conjunto de letras cuspidas! Como bem salivou Drummond: “Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?”

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