quarta-feira, 12 de março de 2014

Recife 477 anos


No Recife chove a esperança de que a última gota lave o cheiro de mangue
No Recife chove a esperança que tudo por fim tenha perfume de mangue
No Recife chove em cima e embaixo das sete pontes
No Recife chove no mar e para o mar de lá chovem os rios
No Recife chove nos homens nos caranguejos nas igrejas e nos fortes
Estrangeiro andante errante vacilante
Findou que o Recife choveu em mim



Um comentário:

  1. Seu blog é laboratório onde sempre encontrarei material didático exótico para minhas aulas. O tema da aula hoje foi norma culta (conotação e denotação). Esse texto encaixou-se como luva para agasalhar o frio nas mãos e incitar meus alunos a escreverem. Começamos pela conotação; quando uma palavra é empregada com esse intuito irá depender do contexto frásico em que se insere. É como em brincadeira de pião, as palavras rodopiam e vão além do sentido comum, ampliando sua significação mediante a circunstância em que a mesma é arremessada, adquirindo assim o sentido simbólico... Após explicação prosseguimos para melhor parte, a aplicação! Selecionei um pequeno trecho escrito por uma aluna inspirada por sua aprazível e dolente conotação. E assim ela escreveu: “A chuva é a melhor amiga d´alma, mesmo calada ela canta enxurradas. Ela toca a estrada deserta que dá acesso a rua das estações e dança com a primavera; desliza nos corredores dos suspiros e da voz trêmula, do corpo invisivelmente molhado e das bochechas rosadas, das algemas nos braços e da vontade de roubar abraços... Como és bem-vinda, pois canta e não deixa enganar a mazela, que parece estática atrás da porta, vestida de flores, pensando noticiar a aurora da primavera. Ó chuva, se for pra cantarola aquela nota que faz cair no sono a lembrança, peço-lhe: não economize volume!” (Pollyana Batista).

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