terça-feira, 20 de novembro de 2012

Para você, Palestina

Eu sinto o frio me trazer o sussurro escuro da noite. Escuto seus lamentos, vejo sua escuridão. Escuto as lamúrias dos séculos a me pediram refúgio. Escuto as sombras, olho a cara do mundo a respirar sua solidão e insanidade. Aceito, inconformado, sua presença, seu cheiro nauseabundo, seus sons de impermanência eclodindo em minha vista cansada de tantas cores que se pintam de cinza. Tenho as cores do mar e do céu povoado de estrelas. Mas os sons do mundo e dos absurdos trazem-me a escuridão da ignorância. Aceito cada palavra como uma flor negra que se abre ou como um caminho para o infinito absurdamente infindável do amor dos que matam e dos que amam. Aceito as dores como aceito as rosas, mas sinto bem mais seus espinhos do que suas pétalas. Rosas absurdas. Libertam seu odor para o ar sujo da cidade, o ar que comanda as desavenças do meu nariz sujo, da minha vida suja, do meu ouvido sujo, da minha boca suja... Comandam a sujeira da vida nas ruas e das guerras, da guerra suja, imunda, impronunciável desejo de morte ante tanta vida, vida que apenas desabrochou em rosa, sempre tão suja e insana guerra, guerra daqueles que tenho que escutar, cheirar, ouvir, comer, e mesmo amar, pois do mais vil excremento de suas bombas nasce minha humanidade, dela também se faz a minha vida e se faz minha morte. Sou ainda mais humano cada vez que uma bomba mata uma criança palestina.


Um comentário:

  1. O homem tem feito uma brilhante trajetória evolutiva desde que saiu das cavernas. Apesar das aberrações, hoje vivemos sedentos de humanização, desejo gestante da “AMORIZAÇÃO”, que já passou dos nove meses para nascer faz tempo. Como devem ser infelizes os guerrilheiros! Muitos de nós, cidadãos civilizados, “guerrilheiros disfarçados”, começamos aos trancos e barrancos agendar esse parto. Outros, ainda nem pensam em marcar a cesariana, preferem tomar um chá de espera e dormir, para deixar que as contrações cheguem um dia, ou que, o feto cristalize em seu ser, e assim desista de querer nascer. Seres que fazem dessa gestação um campo de concentração sangrenta, levando a vida com bombas nas mãos.
    Fiquei pensando: Como é a vida, sempre teremos bombas a serem desativadas. No entanto, preferimos enfrentar o campo inimigo, e muitas vezes, protegemos nossos olhos, calculamos a distância do foco e jogamo-las, de forma certeira, para ver apenas o brilho do seu clarão. Mas ainda assim, sofremos com o cheiro de pólvora entranhado nas mãos.

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