sábado, 26 de abril de 2014

Inacabado


Tu, que não sabes da missa um terço, 
Não penses que a vida é de milagres 
Ou de santos-anchieta
A vida é feita é de (do) concreto
Segue reta e áspera
Lâmina cortante dos dias
Mas tem uma suavidade
Que por vezes lembra a seda
"Olhai os lírios do campo"
Mas não deixe de provar o sangue
Que a rosa te dá ao dedo
Vermelho e doce
A vida, meu caro, minha cara,
É um jardim 
Com segredo de flores
E cochichar de dores
Onde depositas tua coragem e teu medo
Até que se finde o teu último desejo.

2 comentários:

  1. Apreciei o escrito, mais um que utilizarei em classe! Permita-me postar um acontecido!
    O findar, às vezes, não se acalenta com matemática, somando, subtraindo ou dividindo-se os dias. Conheci uma cidadã que beira os 85 anos, diga-se de passagem, lucidez melhor que a minha. Gente acostumada a calcular a grandeza da vida apreciando cada forma geométrica, sem quebrar a cabeça com muitas incógnitas e expressões algébricas de potência sei lá de quantas, quais nem valem à pena simplificação. O nome da criatura é dona Josefa, a qual há três anos ficou viúva, de uma união de “infinitos anos”. Foram tantas dúzias, que achei que ela tinha se atrapalhado nas contas, desses meses somados, que anunciaram cada estação. Perguntou-me sorridente, com os dentes gastos e amarelados, se acreditava que um dia ela ainda o reencontraria em outro plano, espaço, mundo, órbita planetária... Sorri para ela também, embora não acreditasse nesse reencontro. Graciosamente, disse-lhe apenas que ficava admirada com a nobreza da afeição, pois hoje os tempos são outros; e almejaria presenciar e calcular a magnitude da força vetorial de suas almas, em trajetória de atração. Com certeza, ela não compreendia o desenrolar do dispensável cálculo, mas suspirou como quem já soubesse o resultado com exatidão. Naquele instante, a tristeza nos silenciou, e a única matemática que pude executar foi dar-lhe um caloroso abraço; que deixou no ar o doce amargo das condolências e, como de praxes, ela não conteve as lágrimas que, sutilmente, molhou-lhe a face. (Pollyana Batista).

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