quinta-feira, 1 de maio de 2014

Freedom is a state of mind

O silêncio e o desejo romperam as janelas da casa. A alma, castiça até então, deu-se mãos ao corpo pagão e foram brincar no pátio. Sem os medos da chuva, dos dias cinza, da inflação, das mortes no jornal, dos olhares de descontentamento com a alegria dela que se espalhava pela praça. A força que encontrara vinha de onde tudo se faz desassossego, da inquietude serena e lasciva da sua vida sem janelas. Havia nascido na solidão das horas secas, agudas, escuras, essa força dela. Do ventre do medo, junto às vísceras que inchavam a barriga nojenta, purulenta, desse desafeto da liberdade, ela fermentou seu dia novo. Nem deu bola para os dias sem sol ainda a atravessar. Não há liberdade sem conta a pagar. O pedágio do caminho novo era devido. Pagaria com o saldo de sorriso que lhe sobraria a partir de então. Sem tempo mais a perder, recolheu os abraços amigos espalhados pelos continentes e vestiu-se dessa couraça que apenas aos livres se pode conceber. Sorriu leve e docemente com minhas palavras. Era livre.

2 comentários:

  1. Levei esse texto para uma simples atividade e, o que parecia apenas pontuação, virou um passeio pela história, relembrando os portugueses e os indígenas com sua mística dança da chuva. O tema da aula era parafrasear e, nada melhor, que poesia para alma instigar. Se bem que, com a poesia a imaginação poderia a veracidade desconchavar. Quando se parafraseia, as palavras podem ser distorcidas, reinventadas, redesenhadas, desacanhadas... Ou ainda, reeditadas de trás pra frente, e a pontuação colocada onde o bel-prazer agradar. É permitido sacolejar as palavras, desde que a essência não seja maculada. Iniciamos pela compreensão do texto; e a primeira interrogação feita foi sobre a ideia chave do texto. E um aluno respondeu que o texto expressava a confissão do sentimento de uma donzela, e a vida com seus desbravadores, com ou sem, seu consentimento poderia penalizá-la ou até mesmo brecá-la. No entanto, ela consentiu degustar a intensidade do que tanto lhe cutucava. A couraça era indispensável, pois o coração batucava, mas a coreografia só o corpo juntamente com a alma poderiam embalar. E com muita façanha fez uma analogia ao seu texto a chegada dos portugueses ao Brasil. E assim escreveu: “Os portugueses chegaram beirando à margem esquerda, onde a pulsação alegre e desconhecida dos tambores soava acelerada, embora cálido e sincronizada. A água que o navio atravessava estava quente, pois no dia chovia, chovia muito! Tinha gente desnuda dançando, alegremente pintada por fora, mas genuinamente esbranquiçada por dentro. Era a dança da chuva! Não deu outra: sedução, invasão, ocupação, exploração, devastação...” A imaginação navegou tanto, que quando ancoramos ao ponto parafrasear, já sabia que as palavras iriam sair d’água e terra firme chegar. Pollyana Batista

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