domingo, 15 de junho de 2014

Um poeminha brasileiro de domingo

Eu tenho cá no peito um poema que desabrochará algum dia. Um poema feito de rua, de cheiro de esgoto e de criança com fome. Esse poema passa pela Paraíba, pelo Piauí, sente a umidade das florestas do Norte e toma banho na água fria de uma praia do Rio. Esse poema olha para os prédios da avenida Paulista, onde a grana destrói coisas belas e enche de lágrimas e alegria as sarjetas dos Jardins. O poema no meu peito queria ser libertação. Ainda é meio caminho, esse poema pobrezinho, com vontade de chorar. Mas ele sabe para onde quer caminhar e sabe de que lado está. Ele é emoção, é bem verdade, essa falsa, doce, sedutora, mas tão bem vinda conselheira. Esse poema é brasileiro, verde amarelo e com grito de gol na boca. Como não ser emoção?! Mas não se engane, esse poema é também razão, tem a lâmina aguda de um João Cabral, é também um Cão sem Plumas. Esse poema não é cego. Ele nasceu em Vidas Secas, chorou com a morte de Baleia e terá sempre um gosto sanguíneo de Sertão baiano ou mineiro nas veias Sagaranas. Ele me atravessa como um rio, como um rio de Paulinho, e meu coração se deixa levar. Nesse rio nado com meu povo, essa coisa difusa, mítica e única que é o Povo Brasileiro. Nadar com o povo, ensinava um Freire, não é nadar para ele, que assiste nas arquibancadas, mas nadar com ele, não com quem o oprime. Meu poeminha de domingo ainda é poema oprimido,com desejo de voar, mas não tem vontade de ser opressor. Esse poema é meio caminho ainda, somente um abre alas de um carnaval ainda por chegar. A apoteose, ainda tão distante, eu vejo lá no fim da avenida. Mas visto a utopia, sambo junto. O poema pobrezinho não é passista de primeira linha, mas tem uma vontade danada de se vestir de alegria.

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