sexta-feira, 8 de março de 2013

Com licença poética (Adélia Prado)


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Um comentário:

  1. Mulher espécie envergonhada? Em pleno século XXI diria ESPÉCIE DESAVERGONHADA! Lutou e luta de faca e foice contra armamento pesado para: Ter direito de voz; ajudar a construir o progresso; frear a violência doméstica e a agressão sexual; amar sem ser submissa; derrubar as máscaras dos preconceitos e do machismo; acasalar por paixão ou amor antes do casamento se o desejo lhe aflorar; amamentar sem deixar as mamas caírem; seduzir e destilar sentimentos e feromônios quando estão apaixonadas; acreditar que HOMEM da época da pedra lascada é espécies em extinção... Guerreiras que apesar das derrotas, cicatrizes e das armaduras usadas nas batalhas não perderam a beleza e a essência FEMININA. E mesmo fadigadas estão sempre prontas para BATALHA, mas anseiam que gerações futuras caminhem desarmadas, desde que, não haja algemas e coibições. MULHER espécie desavergonhada que lutou e luta para ser simplesmente MULHER!

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