sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Homo brutus e a delicadeza


As minhas amigas leitoras certamente conhecem o tipo. Com um linguajar chulo e maus modos trazidos do berço, acham-se no direito de importuná-las no meio da rua, do bar, da academia, do shopping... Afinal, qual de vocês, ao caminhar solitária ou acompanhada de outro ser feminino por uma rua de edifícios em construção não ouviu do alto de uma laje o inoportuno: “E aí, gostosa, princesa, galega, coisa linda...”, com aquele rugido de Homo neanderthalensis caçando mamute? E para que não pensem que se trata de preconceito contra os trabalhadores da construção civil, deixo claro que este é apenas o exemplo mais comum que as importunadas me relatam. Pois os distintos profissionais liberais e filhos das classes mais abastadas também têm seus representantes entre os mais deselegantes galanteadores. Portanto, espécimes deste tipo podem ser encontrados em escritórios, consultórios, universidades, boates de Boa Viagem ou botequins de Casa Amarela (sem preconceito de classe, cor ou credo religioso).
No momento que escrevo escuto os sons do frevo subindo as ladeiras. Nesta festa pagã alguns seres dessa espécie sofrem uma espécie de mutação que os tornam ainda mais agressivos. São conhecidos como Homo brutus subespécie carnavalensis. Comandado por um cérebro que, apesar de equivalente em tamanho ao do Homo sapiens, não possui um Sistema Límbico, o carnavalensis desconhece a existência de dignidade e limites físicos e costuma engalfinhar, violenta e desrespeitosamente, seus dedinhos articulados em cabelos, braços e bundas das pobres foliãs. Como resultado, esses seres sempre reproduzem um comportamento ainda mais brutal e grosseiro que o usualmente conhecido para o neanderthalensis, o que deixa curiosos os antropólogos de plantão. Claro que ser paquerada, dar beijo na boca (com o devido consentimento mútuo) e se sentir poderosa não faz mal a ninguém, claro está. Mas esta abordagem apreendida no Plistoceno Superior (muito antes de termos cultivado as rosas e destilado os vinhos) e aprimorada com a cultura do macho-moderno-ainda-de-tacape-em-punho é, no mínimo, repudiável e pouco efetiva.
A moderna arqueologia registra ainda a existência de uma terceira linha paralela de INvolução, mas com laços aparentes de filiação as duas anteriormente descritas (neanderthalensis e carnavalensis). Trata-se da subespécie Homo brutus feicibukianus. Os representantes desta espécie se aperfeiçoaram em assédio inoportuno on line. Usam geralmente frases de criatividade entre desprezível e inexistente, tal como “Pô, gata, teu sorriso é demais... me adiciona aí, vai...” Aliás, não é por acaso que, no começo desta crônica, lhes falei “...ao caminhar solitária ou acompanhada de outro ser feminino...”. Sim, outra característica distintiva, e ao mesmo tempo peculiar, entre as espécies de Homo brutus é o seu senso de respeito pelo macho-próximo, seja marido, namorado, amante ou simplesmente ficante. Raramente, ou nunca, o H. brutus desfila suas estúpidas, despropositadas e indelicadas cantadas com a presa acompanhada pelo macho que ele julga dono da fêmea-presa. Estudos indicam que o brutus costuma respeitar, temer ou adorar (há divergência de opiniões...), o cheiro de qualquer outro membro do gênero Homo. São também muito mais corajosos e destemidos quando atuam em grupo, embora este tipo de abordagem lhes seja pouco indicada, visto que teriam que dividir o escasso resultado da caça, sendo-lhe o abate (pelos motivos já expostos) tão ineficiente.
É isso, minhas queridas amigas importunadas. A crônica veio para lhes dizer que entendo. Que lhes escutei as estórias e lhes sou plenamente solidário com as queixas. No fundo, no fundo mesmo, acho que esses tipos não gostam de mulher. Não de sexo, que disso, por uma demanda biológica de seus genes egoístas, são impelidos a buscar. Mas do feminino mesmo, dessa delicadeza que nem sequer avizinha-lhes o entendimento.  Espero que a delicadeza se instale com mais urgência (inclusive porque, imaginem, existem representantes da espécie até entre o gênero feminino...).

   

6 comentários:

  1. Oi Clístenes,

    Na minha visão, o H. brutus tem uma grande vantagem: o machismo está escancarado, então quem chega perto já sabe o que esperar. O que me dá medo é outra espécie de homem: aquele que durante a conquista agrada, é doce, romântico, tudo de bom, mas que depois desta fase, trata a mulher como criada dele, castrando-a de todas as formas possíveis. É este tipo que coloca a mulher em primeiro plano quando o assunto é cuidar dos filhos e da casa, e a põe em segundo plano nas decisões. Este me dá medo, porque é bem mais difícil das mulheres se defenderem...E a luta é árdua para quem se relaciona com um exemplar desta espécie.

    bjs!

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  2. Pois é, Débora... muitos (inicialmente) Homo gentilis escolhem sua mulheres, dão-lhes sonetos, rosas, aliança e casa e pensam que "contrataram" submissão e aceitação... e não parceria. Ambas as espécies, por motivo diferentes, são perigosas. Recomendo manuais de antropologia, arqueologia e bom senso.
    Bjos!

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  3. Homo brutus feicibukianus... esse eu conheço bem!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  4. Eu sei, Naymme... Tb com um sorrisão desse...
    Beijopratu!!

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  5. No último carnaval, foi testemunha da crescente de Homus brutus subespécie carnavalensis do gênero feminino. Por alguns momentos fui comunicado pelas espécies femininas acompanhantes que não era permitido duas coisas durante a ocasião: o segundo beijo e perguntar o nome, uma delas ainda me falou: - no meu dia a dia não sou assim. Parabéns por mais uma bela crônica. Abraço!

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