domingo, 13 de fevereiro de 2011

A Pipa e o Desejo



Eu boto ela lá no céu pra você, num qué...?

Prometeu acorrentado, não cheguei a portar a Luz. “...Tudo isso porque amei os mortais...” Assim acordei esta manhã, nublando com a alma o céu do Recife. Misto de plenitude e falta. Tentando inutilmente saber o que é o desejo. Especulei até o fundo das entranhas. Resposta não há. Será que Deus, ao contrário do que pensa o ateísmo engajado, é mais um desejo que uma ilusão? Muito provável. A afirmação contundente de Michel Onfray é intrigante, penso: “Superemos, portanto, a laicidade ainda marcada demais por aquilo que ela pretende combater”. Sim, às vezes tentamos combater o inimigo atacando o que ele tem de mais forte... No entanto, a ideia de Deus, e tudo que dela advém, permanecerá deslocada para o meu silêncio retórico e ideológico.  Deixo isso para os especialistas, que desses assuntos vejo apenas a superfície. Além disso, Deus apresentou-se aqui apenas como representação do desejo. Este sim, maldosa e deliciosamente me veio esta manhã. Veio-me de maneira simples e direta, com Ná Ozzeti cantando o tema de Gabriela, de Jobim: “Chega mais perto moço bonito, chega mais perto meu raio de sol, a minha casa é um escuro deserto, mas com você ela é cheia de sol.” Veio-me com a imagem de Sônia Braga (imagina-se outra Gabriela.??!) na cena em que trepa o telhado para resgatar a pipa do moleque com a majestosa bunda exposta ao público, em sua inocência quase pueril , enquanto os desejos de todos os homens e a inveja de todas as mulheres tentavam, em vão, arrancar-lhe a Gabriela toda que ela era. Eis o Desejo: é Gabriela subindo o telhado!

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