segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Bala de Prata para Luiz Inácio






Desde 1989, quando uma montagem vergonhosa de um debate pela Rede Globo conduziu Collor à vitória, nem sequer uma única semana de trégua foi dada ao derrotado daquelas primeiras eleições democráticas após a Ditadura Militar. Nem sequer uma única prova material apresentada que desabone sua história. Nem de longe seu partido é feito apenas de pessoas honestas e sérias. Nenhum é. Chegou ao poder e cometeu erros que sempre criticavam em outros partidos. As críticas são merecidas e bem vindas, quando honestamente formuladas. Os culpados, quando provado em juízo, merecem as penas cabíveis, sejam de que partido forem. Por outro lado, a análise correta nos impõe rechaçar a temerária injustiça com os que não cometeram crimes e têm sua honra arrasada ante os irresponsáveis refletores de uma mídia que condena antes de qualquer julgamento. Para o ex-operário que se tornou o maior líder político do país e, portanto, alvo a ser derrubado, são recorrentes e extremamente parciais os tratamentos dados pela chamada grande mídia, quando comparado com seu antecessor.
O migrante nordestino, que nem sequer fala inglês, torceu os narizes preconceituosos e se tornou o presidente de maior aprovação popular da história do Brasil. Elegeu sua sucessora quando todos a chamavam de poste. Traumatismo craniano por bolinha de papel, para ficar apenas em um exemplo, tentou impedir-lhe a vitória. Ao contrário de 89, dessa vez a manipulação não teve o mesmo sucesso. Bons ventos! Suspeito que, ao fim do seu mandato, a Presidenta terá ainda maior popularidade que seu mentor. A Casa Grande, e o partido da imprensa golpista (PIG) que sempre a apoiou (na ausência de uma oposição que desempenhe competentemente o seu papel democrático), nunca perdoará tamanhas e repetidas insolências. Os mais assanhados e descarados querem fazer acreditar que, antes dessa quadrilha por ele chefiada, não existia a corrupção no país. Urgem decretar que um julgamento do STF refundaria a República do Brasil em novas bases. Sim, pois o tal partido inventou a corrupção na história do país. Outros, seja pelo velho e bom preconceito, inocência ou pura desonestidade intelectual, fazem coro à tática usada desde a propaganda stalinista ou nazifascista: uma mentira repetida inúmeras vezes talvez se torne uma verdade... Nas últimas eleições, decretaram o seu fim político (mas mais uma vez esqueceram-se de combinar com o povo) e ficam estarrecidos que tenha elegido o prefeito da maior cidade do país e que seu partido tenha crescido ainda mais.
A esse ex-operário, exigem-lhe o que de ninguém mais se exige ou se exigiu: que seja onisciente e que seus comandados, todos eles, sejam imaculados. Exigem-lhe que saiba o que se passava em cada email, em cada conversa paralela, como se governasse uma casa de dois quartos e não um dos maiores e mais importantes países do mundo. Como se, sobre todo e qualquer presidente, não pairasse a sombra dos que tentam traficar influências em benefício próprio ou de terceiros com o uso de seu nome. É um político, como todos, e faz alianças para as quais tem que ceder nesse jogo de interesses inevitável do qual se faz a política. Nada mais, nada menos que qualquer outro mandatário. Apenas esse, como sempre, deveria saber de tudo e ser culpado de tudo. Depois gritam aos ventos: ele sabia e não fez nada. Ou, soa-lhes melhor: ele estava diretamente envolvido, mesmo que, volto a dizer, nem sequer uma única prova seja apresentada. Ao outro presidente, semelhantes questionamentos jamais foram feitos. Pelo menos não pela mesma mídia tão zelosa do interesse público. Exigem-lhe, esses 7% que acham que seu governo foi ruim ou péssimo e a imprensa dos Civitas e dos Marinhos que lhes acalentam os sonhos, que seu partido seja feito de santos e não de homens, com suas virtudes, mas também com seus vícios e suas fraquezas, como todos os homens de todos os partidos. O seu, não. Não adianta que ele ou sua sucessora exonerem àqueles que têm fortes indícios de praticaram o mau serviço público, serão sempre culpados pela conduta de cada um deles, e, com eles, formavam uma “quadrilha” como nunca antes na história desse país. Não lhe dão igualdade de julgamento ou de pré-julgamento, como fizeram com o outro presidente que tinha o cheiro da Casa Grande. O benefício da dúvida, ante a inexistência de provas, não lhe é jamais concedida. Há uma mulher envolvida? Não temem o machismo de alardear que era amante, namorada, que sua esposa a detestava, que apenas pelas benesses de um amante as mulheres podem alçar seus voos, seja de dignidade ou de corrupção. Ao seu antecessor, o que fala várias línguas, dá-se o direito de ter filho fora do casamento e nem sequer um comentário da grande imprensa, a não ser que seja para entender-lhe e proteger-lhe a fraqueza humana. Como, aliás, concordo que deva ser: com um ou com outro, vida pública e privada não devem ser confundidas e tratadas com sensacionalismo. Mas, também esse direito básico, a esse lhe é negado. Para aqueles que acham o tratamento diferenciado quando se trata do operário, resta acostumarem-se com sua síndrome de perseguição. Acham o tratamento justo e imparcial, esses 7% de iluminados ante a cegueira dos demais.
O Golpe está em curso. A bala de prata a matar o sapo barbudo, o presidente operário, o que sabia de tudo, o que deveria ter a santidade como qualidade, é desesperadamente buscada, a cada semana, desde os anos 80. Surpreendentemente ainda não a encontraram... Onde estaria? Conseguiram com Lugo, no Paraguai. Será que conseguirão no Brasil? Quando o ex-presidente será mortalmente atingido? E, na sequência, sua sucessora? Quando conseguirão convencer o povo que ele está, mais uma vez, errado nas suas escolhas? Como convencer esses 80% que aprovam seu governo e o de sua sucessora de que estão equivocados? Como convencer esse povinho inculto, que merece os políticos que tem, que viu sua vida melhorar sensivelmente nos últimos dez anos, que deve jogar isso fora? E em troca de quê? Como convencer que a corrupção é privilégio de UM partido? Com as redes sociais, com a informação livre e com a imprensa plural, livre e ética isso pode se tornar cada vez mais difícil. Um novo marco regulatório para as comunicações, que dê igual direito democrático de difusão de ideias para todos os segmentos sociais, e que não restringe essa concessão pública a poucas famílias como ocorre no Brasil, é fundamento básico para que nenhum Golpe, seja de direita ou de esquerda, seja vindo da caserna ou das antenas de TV, volte a acontecer no país. 


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