O silêncio e o desejo romperam as janelas da
casa. A alma, castiça até então, deu-se mãos ao corpo pagão e foram
brincar no pátio. Sem os medos da chuva, dos dias cinza, da inflação,
das mortes no jornal, dos olhares de
descontentamento com a alegria dela que se espalhava pela praça. A força
que encontrara vinha de onde tudo se faz desassossego, da inquietude
serena e lasciva da sua vida sem janelas. Havia nascido na solidão das
horas secas, agudas, escuras, essa força dela. Do ventre do medo, junto
às vísceras que inchavam a barriga nojenta, purulenta, desse desafeto da
liberdade, ela fermentou seu dia novo. Nem deu bola para os dias sem
sol ainda a atravessar. Não há liberdade sem conta a pagar. O pedágio do
caminho novo era devido. Pagaria com o saldo de sorriso que lhe
sobraria a partir de então. Sem tempo mais a perder, recolheu os abraços
amigos espalhados pelos continentes e vestiu-se dessa couraça que
apenas aos livres se pode conceber. Sorriu leve e docemente com minhas
palavras. Era livre.
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