sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Canvas White


O silêncio e o desejo romperam as janelas da casa. A alma, castiça até então, deu-se mãos ao corpo pagão e foram brincar no pátio. Sem os medos da chuva, dos dias cinza, da inflação, das mortes no jornal, dos olhares de descontentamento com a alegria dela que se espalhava pela praça. A força que encontrara vinha de onde tudo se faz desassossego, da inquietude serena e lasciva da sua vida sem janelas. Havia nascido na solidão das horas secas, agudas, escuras, essa força dela. Do ventre do medo, junto às vísceras que inchavam a barriga nojenta, purulenta, desse desafeto da liberdade, ela fermentou seu dia novo. Nem deu bola para os dias sem sol ainda a atravessar. Não há liberdade sem conta a pagar. O pedágio do caminho novo era devido. Pagaria com o saldo de sorriso que lhe sobraria a partir de então. Sem tempo mais a perder, recolheu os abraços amigos espalhados pelos continentes e vestiu-se dessa couraça que apenas aos livres se pode conceber. Sorriu leve e docemente com minhas palavras. Era livre.

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