Nesta época do ano, com uma simbologia
escandinava com suas renas e neve invadindo a quentura dos trópicos,
quando o lúdico (para crianças e adultos) se transforma em sacolas de
Shopping Centers enquadradas por uma
árvore que acende-e-apaga-acende-e-apaga-acende-e-apaga importada do
clima temperado, quando apresentadoras de TV ensinam como conservar o
peru e o chester que "sobraram" da "ceia de natal" nesse país ainda tão
injusto, quando todos se transformam em pessoas tão boas e piedosas que
levam a outra metade da humanidade a sentir vergonha de sua humanidade
tão imperfeita, quando atropelam as pessoas na faixa de pedestres para
não perderem um segundo das compras, quando todos, numa espécie de
histeria grupal, atendem ao pedido comercial de comprarem ao mesmo tempo
o que no mês seguinte estará pela metade do preço, nessa época que foi
escolhida para o impossível desejo de felicidades para "todos", quando
se não participas da hipnose coletiva és um "insensível", quando uma
celebração de um nascimento é esquecida mesmo pelos milhões que dizem
nela acreditar, a pergunta que me vem é quando e porque começamos tudo
isso? Claro está que não somos contra o amor, a bondade, o bem (pelo
menos não uma grande parte de nós, humanos). Claro está, e que assim
seja, que desejarei alegrias para os que amo, neste dia e em todos os
outros. Claro está que a maldade também existe, em dezembro e em
qualquer mês do ano, e que lá no fundo todos sabemos que poderíamos
fazer muito mais pelos outros e não o fazemos. Claro está que esse papo
de perdão (especialmente do tipo sincero) é característica rara nos
seres humanos. Claro está que escolhemos um "modelo" de vida baseado no
consumismo desenfreado, nas ilusões fáceis, que se vê mais exacerbado,
atingindo seu ápice, nessa época "natalina". Nesta época tão ligada ao
cristianismo (apenas uma entre tantas outras religiões), desejarei que
todos se perguntem os "porquês" e "para quem". Eu, religioso que não
sou, trago a minha mente a imagem de dois homens da Igreja Católica
(poderia ser de qualquer outra e mesmo ateus). Dois homens de uma "outra
Igreja", quase subversivos se vistos pela ótica de padres acrobatas e
cantores de auditório (e não vejo mal na música ou na acrobacia, fique
mais uma vez claro), de papas e pastores anacrônicos que olham apenas
para o "além", o "paraíso", a "eternidade" e esquecem a vida dura e
injusta de suas "ovelhas" mais necessitadas (e com isso, está cada vez
mais claro, espero, reconheço que há entre eles seres admiravéis,
verdadeiros cristãos que se colocam ao lado do povo mais sofrido), dois
homens que sabem que o amor e a igualdade devem estar (pelo menos
também) na vida terrena. Trarei neste Natal a imagem de Dom José Maria
Pires e Dom Helder Câmara. O primeiro arcebispo negro deste pais mestiço
e o que era chamado de "comunista" ao perguntar o "porquê" dos pobres
terem fome. Dois grandes homens, aqui dos tristes e quentes trópicos,
que inspiram tudo o que foi esquecido (e forçosa e hipnoticamente
lembrado pelas luzes ofuscantes desse outro Natal). Sendo assim, ao lado
de cristãos como esses, com homens como esses, que levam a
conscientização do povo excluído dessas luzes todas e dos Shopping
Centers, dos oprimidos, dos marginais (os que estão na margem das
estradas, levando na cara a poeira levantada pelos carros de luxo,
segundo um deles), a esses homens que ensinam a lutar, a buscar os seus
direitos, a reivindicar, a enfrentar o opressor. Nesse Natal eu acredito
e desejo a todos.
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