domingo, 8 de maio de 2011

Sinal Fechado

"Tá relampiando. Cadê nenén? Tá vendendo drops no sinal pra alguém."
(Lenine e Paulinho Moska)

O pequeno Malabarista - óleo sobre tela 65x54cm- Sandra Nunes
 
Imagino que se sentou, lambeu as últimas migalhas de pão duro no prato de plástico e saiu à rua. Com as chuvas as moedas escasseariam, mas não teria alternativa senão a caridade de centavos nas janelas dos carros. Ninguém se importava de fato com sua angústia de barriga esfomeada. Em dias normais isso era a regra; com esta chuva, então, não haveria exceção de vidros baixando. Como ele, eram centenas nas ruas da metrópole. Já nem se sabia mais de onde nasciam. Parece que brotavam nos semáforos com suas roupas e almas sujas de solidão e desesperança. Seres ineptos para a dignidade, com seus buchos de lombriga e cheirando a esgoto, insultando o ar da cidade. Tremia de frio no comecinho da noite molhada, com os pés descalços na água imunda.

4 comentários:

  1. LEIDIVAM...

    Eu intitularia este fato narrado acima como a “POESIA DO CAOS”... Como seria bom se os “SERES” que serviram de inspiração para tal NARRATIVA pudessem ou soubessem LER.

    peço licença para contar um fato que me aconteceu ao lado da casa do estudante no Derby- Recife: Certa vez eu estava vindo do interior, estava chovendo e resolvi evitar a avenida recife – por que esta sempre alaga – Ao parear a casa do estudante e chovendo muito, uma menina aparentando 10 a 11 anos, bateu com uma pistola no meu vidro do carro, com movimento de lábios, mas eu não entendia nada... Com medo é claro, abri o vidro devagar; para a minha surpresa a garotinha falou: Moço me compre essa arma, eu ROUBEI do meu pai e quero vender para compra comida para os meus irmãos... Eu estava na hora com R$52,00 (Cinqüenta e dois reais) e não poderia deixar aquela criança portando aquele “BRINQUEDINHO”... Realmente eu comprei tal mercadoria, procurei a delegacia e entreguei a bendita arma e tive que dá bilhões de explicações... “Que bem quer é natal e não primeiro de abril”, disse o delegado.

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  2. Podemos até fechar os vidros dos carros, mas eles estarão lá na chuva ou no sol. Sabe lá meu misericordioso Deus por que estão ali, vivenciando tanta miséria e exclusão. Poderiam servir de reflexão para tantos desperdícios que o homem faz todos os dias, e o mínimo faltando à mesa de muitos. Lembrei-me de um conversa com uma senhorinha de cabelos alvos, bondoso coração. Ela sempre ajuda esses "ratos de rua", os quais chama de “fortaleza de espírito”. Batem palmas em sua casa pedindo um pouco d’água, durante todo o dia, e ela atende-os com maior prazer. Um dia bateram palmas na casa vizinha, e um jovem ao atender aquela criaturinha disse-lhe: é na casa ao lado. É assim que muitas vezes agimos, com indiferença, empurrando a bola para frente. Espero que um dia a humanidades seja menos hipócrita, diante de tanta desigualdade. Existem seres que são como músicos que se comovem com certos acordes, enquanto outros ouvem meros sons.

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  3. Obrigado, anônimo(a), pelo comentário sensível.

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