quinta-feira, 21 de abril de 2011

Páscoa de Olhos Azuis


O pai tentava explicar a filha de lindos olhos azuis que o ovo de páscoa escolhido continha menos chocolate do que o que ele, insistentemente, apresentava-lhe. Detalhava de maneira precisa e matemática as vantagens da camada mais espessa de chocolate e de que aquele brindezinho poderia ser comprado à parte, bem mais barato. Desnecessário dizer que os apelos não convenceram a pequena beldade. Ela quer o sonho, a magia, o lúdico da forma como lhe apresentaram na TV ou, os próprios pais, naquele supermercado lotado de outros desejos iguais... Como fustigá-la com gramas? Fiquei receoso ainda que ele tentasse explicar a menina que coelhos não põem ovos... Eu naquela fila de quilômetros, com os devidos ovinhos dos sobrinhos conseguidos quase à tapa debaixo do braço, lanço um sorrisinho cúmplice para a garotinha e lembro-me de minhas leituras meninas (Meu Pé de Laranja Lima), no qual o narrador-autor pergunta-se (com o devido assentimento de minhas lágrimas também meninas...): “Por que contam as coisas as criancinhas?”.

Caso haja especulação, desonestidade, espírito do capitalismo, exploração da ingenuidade infantil, histeria coletiva ou qualquer agravante que solape nosso bom senso, as crianças não levarão isso em conta (ou não seriam crianças, afinal!). Pais, avôs e tios, cansados, ressacados, exaustos (e muitos também fascinados com tantas opções, cores e brindes...) se perguntarão, enfim, se vale mais a pena não se sentir ludibriado pela inequívoca exploração comercial de mais uma celebração olvidada (quem se lembra da tal Páscoa, afinal, época na qual ressuscitam-se os coelhos-botadores-de-ovos...?) ou deixar aqueles rostinhos alegres com os seus doces pedaços de sonho...

3 comentários:

  1. Muito interessante a discussão! A Páscoa para mim sempre foi a época de comidas gostosas como peixe de côco e feijão de côco (meu preferido). Hoje cultivo a Páscoa junto aos meus alunos e amigos como mais um momento em que relembramos e celebramos a felicidade de termos nos conhecido e estarmos compartilhando bons e maus momentos. Junto à minha pequena família biológica (irmãs e cunhado) é sempre um momento em que agradecemos a Deus, como católicos que somos (parafraseando este amigo), todas as bênçãos recebidas e a alegria de estarmos juntos, além de relembrarmos momentos hilários de nossa infância e adolescência! E, é claro, com troca de ovos de Páscoa!!! Hummmm...

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  2. Parabéns, Clís: Mas que belo talento literário escondido atrás desse Agrônomo, hehehe.
    é isso aí, insista nas divagações literárias e secreções diversas pois está tudo bem "adubado", Doutor.

    Forte abraço e FELIZ PÁSCOA p/ todos vcs.

    Luis.

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  3. Obrigado pela visita,caro Crustáceo Gastrônomo. Abraço!

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