domingo, 24 de abril de 2011

Sísifo e a Cana

Foto: Carllos Bozeli


           O peso e a brutalidade do esforço se entregam na mesma agonizante tarefa. 
O corpo humano, frágil, se maltrata no trabalho que apenas à máquina caberia. 
Não há poesia na lida. 
Não vemos aqui um Sísifo Feliz a alimentar-se da sua tragicidade consciente. 
A vastidão das canas a cortar esmaga a lógica, soterra a esperança ante o
torturante e infindável trabalho imposto por deuses vingativos. 
Alguns morrem por infarto. 
Outros por desesperança. 
Olhei-lhes os olhos, as mãos sujas e calejadas de onde escorrem meu açúcar, 
meu álcool e meu esquecimento ante sua invisibilidade de homem-coisa. 
Tem-se a pedra e Sísifo quer erguê-la ao topo do mundo. 
Tem-se o facão e esses seres do canavial cortam a própria carne, o vazio, o inexistente, o absurdo. 
Quando se faz sua alegria? Que paixões os moveriam a cada solfejar da lâmina inglória? 
Ser superior ao destino é pretensão de mito grego...

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