domingo, 20 de maio de 2012

A cidade que dorme


A primeira vez que visitei Havana, em 2001, a cidade em abandono foi o que mais me impressionou. Muitos pontos da cidade foram restaurados, trazidos à luz em cores novas e vibrantes. No entanto, o que há de distante nos prédios antigos, com suas paredes enegrecidas e portões enferrujados, que presenteia os olhos com essa beleza fortuita corroída pelo tempo, parece-me a essência da cidade.  Havana me pareceu uma Madri em ruínas, onde a perspectiva dos olhares estrangeiros e das miradas dos cubanos se encontram nas labirínticas possibilidades de se sentir a cidade por diferentes perspectivas. Walter Benjamin disse que as pessoas que não moram na cidade são as que mais se interessam por suas características mais exóticas. O que há de pitoresco nos prédios antigos da capital de Cuba, uma incerta melancolia que se vê nas ruas de seus barrios antiguos, toca-me mais que a majestosa arquitetura de seu Capitólio. Havana tem uma beleza acidental e uma força que se ergue das ruínas e que, por fim, sintetiza certa estética da decadência que tanto me agrada quando a visito.

2 comentários:

  1. Bom dia Clístenes,
    Sempre acompanho o seu blog e me fascina não apenas o conteúdo das discussões mas, principalmente, sua estética literária.
    Neste post o que mais me agrada é perceber que almas sensíveis como a sua muitas vezes nos levam a uma perspectiva similar. Coincidentemente você dá continuidade a uma discussão que acabei de acompanhar no livro Istambul, de Oram Pamuk . O Livro é um relato delicado (traço que caracteriza Oram)no qual o autor se propõe a descrever afetuosamente sua cidade natal. Em um recorte desta discussão o autor comenta como a isenção do cotidiano permite o distanciamento necessário para que o olhar contemplativo do estrangeiro aprecie a beleza acidental presente no caos e na decadência. Belo trabalho o de vocês...

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  2. Pamuk é sempre uma inspiração, caro(a) anônimo(a). Compartilho com ele e com vc essa visão das cidades bela melancolia, como Istambul e Havana...

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